A Secretaria Estadual de Saúde está mapeando as regiões do Piauí onde existem trabalhadores expostos a agrotóxico. Hoje (quarta-feira), mais uma equipe de técnicos viajou para os municípios de Uruçuí, Baixa Grande do Ribeiro e Ribeiro Gonçalves para continuar os trabalhos que já foram iniciados no município de Bom Jesus.
A equipe é composta por médico, enfermeiro, técnicos de laboratório, assistente social, pesquisador da Universidade Federal do Piauí, farmacêutico e nutricionista. “Assim que chegamos aos municípios onde vamos realizar o trabalho a equipe se amplia já que os profissionais de saúde da região são chamados para nos auxiliar. Nossa primeira providência é fazer uma reunião sócio-comunitária com os trabalhadores e os sindicatos. Na maioria das vezes nós visitamos os acampamentos para conversar com esses trabalhadores rurais”, explica Jorgenei Moraes, pesquisador da UFPI e técnico do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, Cerest.
Ele explica que este é um trabalho técnico científico feito através do Cerest. “Nosso objetivo é aumentar nosso leque de conhecimento em relação à exposição ao agrotóxico no Estado para que tenhamos um embasamento técnico e sair do estado de dúvida”, ressalta Jorgenei lembrando que ainda continua em pesquisa a causa da morte dos trabalhadores rurais, possivelmente contaminados por agrotóxicos, na região sul do Estado.
De acordo com o técnico, a contaminação acontece de forma falseada. “Não se pode chegar numa comunidade e por um simples exame laboratorial ter o resultado de uma intoxicação. O agrotóxico tem três níveis de intoxicação. Existe a aguda que você imediatamente que entra em contato com agrotóxico você sente os efeitos. A subaguda que a pessoa está exposta aos agrotóxicos, mas os resultados vão aparecer uma semana depois. Ainda existe a crônica, que é mais complexa e que é resultado de uma exposição de quatro, cinco ou seis anos de um trabalhador”, explica.
Além das reuniões ampliadas de orientação sobre o uso de agrotóxico e da distribuição de material informativo, a equipe ainda aplica questionários ampliados e coleta sangue para uma série de exames. “A exemplo do que já fizemos em Bom Jesus, assim que conseguimos mobilizar os trabalhadores começamos a mapear o uso de agrotóxico no Estado, aplicando um grande e detalhado questionário e coletando amostras de sangue”, ressalta Jorgenei.
Coletadas as amostras, o material será encaminhado pelo Laboratório Central do Estado que fará os exames de Acetilcolinesterase Plasmática e Eritricitária, que identificam a contaminação por agrotóxico na fase aguda e crônica. T.G.O. e T.G.P. que avaliam lesão hepática, Creatina e Uréia que avaliam função renal, Gama-GT que analisa o teor alcoólico no sangue e Fosfatase Alcalina que avalia possíveis lesões teciduais.
Depois desses três municípios, a equipe da Sesapi ainda visitará os municípios de Corrente, Cristalândia, Santa Filomena. “Quando chegar o final do ano, nós queremos ter um mapeamento de todo plantio de soja e onde tem trabalhadores expostos a agrotóxicos. Os exames serão repetidos a cada seis meses durante dois anos para que nós possamos ter uma constatação completa”, diz Jorgenei.
Além das equipes da Saúde, também participam dos trabalhos o CREA, que verifica as atividades regulares dos profissionais de Agronomia do Estado, o Ibama que verifica as condições ambientais de aplicação da legislação, a DRT participa fazendo a fiscalização em todas as fazendas e onde existam trabalhadores rurais na região, o Ministério Público, a Procuradoria do Trabalho e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, responsável pela medição dos níveis de contaminação de água e solo.