O trabalho realizado pelo Centro de Referência em Saúde do Trabalhador com trabalhadores rurais da região de Bom Jesus é o tema de uma dissertação de mestrado que será defendida nesta quarta-feira, às 16h, na Universidade Federal do Piauí.
A dissertação na área de Meio Ambiente e Desenvolvimento, tem como tema “Agrotóxico e Meio Ambiente: do Uso aos Agravos nos Trabalhadores Rurais de Bom Jesus – PI” e será defendida pelo biólogo e pesquisador do Cerest, Jorgenei de Moares.
Ele explica que a pesquisa teve como objetivo avaliar o impacto causado pelo uso de agrotóxico nos trabalhadores rurais da região e foi realizada através de uma parceria entre a Secretaria Estadual de Saúde, Universidade Federal do Piauí, Ibama, Fetag, Ministério Público do Trabalho e Secretaria do Meio Ambiente. “Depois da morte de alguns trabalhadores em 2005 por possível uso de agrotóxico, nós resolvemos fazer um grupo tarefa para estudar a questão através de bases científicas. Para isso, pesquisamos 87 trabalhadores rurais da região, sendo 60 deles da Serra do Quilombo e 27 das fazendas de soja”, destaca o pesquisador.
Para a realização da pesquisa foram aplicados questionários tanto com os trabalhadores da região, como com os médicos do meio rural e de Teresina. “Com os trabalhadores nós pretendíamos entender a sua rotina e o que pode representar um agravo para a sua saúde. Já com os médicos, nosso objetivo é entender como os profissionais da região bem como os da capital identificam e diagnosticam pacientes com possível contaminação por agrotóxico”, ressalta Jorgenei.
Uma das conclusões do trabalho é a de que há necessidade no Estado de profissionais mais ligados ao meio rural. “É necessário profissionais com uma maior visão do meio rural. Nossos médicos têm uma visão muito urbana. Outra necessidade é de se fazer um trabalho multiprofissional, com aproximação do trabalho do médico e do agrônomo, por exemplo”, revela Jorgenei.
Outras conclusões interessantes dizem respeito ao alvo da contaminação. “Nos nossos trabalhos chegamos à conclusão de que os trabalhadores mais contaminados são os da faixa etária de 18 a 25 anos, que acreditam que por ter maior vigor físico, não sofrem risco de contaminação. Por outro lado, as mulheres se contaminam indiretamente, como através da lavagem de roupa dos maridos. Em todos os casos, um dos grandes responsáveis pela contaminação é o fato desses trabalhadores não saberem ler e as fazendas não respeitarem o caráter técnico de quem deve manipular o agrotóxico”, diz o pesquisador.
São pesquisas como essas que orientam o trabalho do Cerest, que há quase três anos atua na educação à prevenção de agravos à saúde do trabalhador. O Centro trabalha com cinco projetos estruturantes e um deles está direcionado a exposição de trabalhadores ao agrotóxico. “O Cerest já intensificou o trabalho de prevenção contra a contaminação por agrotóxico, tanto no que se refere à realização de trabalhos educativos, orientando para o uso de equipamentos de proteção individual, cuidados técnicos na aplicação, manipulação e preparação de agrotóxico, bem como no que se refere à investigação de suspeitas de intoxicação”, destaca Tatiana Chaves, diretora da Vigilância Sanitária do Estado.
Ela ainda chama atenção para o trabalho do Centro de Informações Toxicológico, que atende 24h por dia prestando informações sobre intoxicações. “Há certos casos de intoxicação por agrotóxico que pode alterar até o DNA, com possibilidade de levar até ao câncer. Por isso que todos devem ficar atentos e terem consciência dos riscos. Através do telefone 0800 280 36 61, qualquer pessoa ou profissional de saúde do Estado pode tirar dúvidas ou receber orientações sobre procedimentos de como lidar com qualquer tipo de intoxicação”, garante Tatiana.
Mais informações: Jorgenei de Moraes – 8832-0925