Quando Cristiane Nascimento, de 27 anos, chegou ao Hospital Areolino de Abreu, há algumas semanas, apresentava os mesmos sinais da maioria pacientes que chegam aquela casa. Agitação, pouca concentração e um olhar perdido, sem grandes perspectivas. Muito diferente da jovem que hoje (quinta-feira) foi a noiva da quadrilha Esplendor, que reuniu vinte e quatro pacientes do hospital.
Vestida de branco e com um sorriso no rosto, Cristiane foi par de Milton Sérgio, de 29 anos, que ficou todo orgulhoso da avó ter visto a quadrilha. “Eu adorei. Minha avó veio e o melhor foi a animação”, disse o jovem.
O que para a maioria das pessoas seria uma simples manifestação popular, para esses pacientes foi uma forma de mostrar o quanto eles podem ser bem mais do que as pessoas esperam. Além de ensaiar cada passo diariamente, foram eles que prepararam a ornamentação da festa e ajudaram na organização. “Atividades como essa têm grande potencial terapêutico. Não é o fato do paciente estar doente que ele deixa de ser um ser social, que precisa se integrar com a comunidade”, explica Márcia Astrês, diretora do hospital.
Participaram da confraternização, com direito a muita comida típica e forró, os duzentos internos do Areolino, além de familiares e funcionários. “Eu fiquei muito feliz de ver o quanto meu pai se animou com a festa. Acho isso muito importante para a recuperação dele”, disse Maria Odete, filha de um interno.
Assim como a quadrilha, no hospital, os pacientes, que muitas vezes sofrem com o estigma de inválidos, participam de atividades como teatro, aulas de música, oficinas de movimento e educação física. “Muitas pessoas acham que o tratamento medicamentoso é a única coisa empregada aqui, mas nós buscamos um tratamento mais integral, com outros tipos de recursos. Assim eles se sentem valorizados, mais alegres, além de puderem liberar energia de forma positiva, aumentando até a auto-estima”, avalia Astrês.
Para quem está do lado de fora, a experiência também é válida. O grupo de alunos de 5ª, 6ª e 7ª série da Unidade Escolar Martins Napoleão se surpreendeu com a recepção. Ramon Mardem, de 12 anos, não esconde que sentia até medo de quem se tratava no Areolino de Abreu, sentimento que foi encerrado depois da apresentação. “Eu sentia medo, mas adorei. Eles são bem legais, se comportam muito bem. Ficaram muito felizes. Se eu soubesse que era assim, não tinha esse medo”, disse o garoto.
A diretora ressalta que é esse o sentimento que o hospital quer combater. “Ainda existe o preconceito, especialmente para quem não conhece os pacientes e seus tratamentos. Nosso objetivo é mudar essa idéia, trazendo cada vez mais a comunidade para dentro do hospital, promovendo a integração, e assim a recuperação de cada um”, revela.