Os últimos seis meses foram de intensa movimentação para o corpo técnico e gestores do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Piauí (Hemopi). Durante o período, o órgão se modernizou em uma escala nunca vista. O Hemopi implantou coleta por aférese, iniciou a instalação do Laboratório de Hematologia e Hemostasia, de uma Sala de Teleconferência e de um Laboratório de Fenotipagem Eritrocitária.
Esse novo instrumental equipara o Hemopi aos mais desenvolvidos centros de hematologia e hemoterapia do país e dão mais segurança e tranqüilidade aos milhares de doadores voluntários fidelizados. “Tivemos em um único semestre o que teríamos em quatro anos”, comemorou a coordenadora de Educação e Saúde do Hemopi, psicóloga e pedagoga Veronesia Rosal. “Estamos recuperando o tempo perdido”, completou.
O sistema de coleta por aférese, no qual um componente sangüíneo, tal como as plaquetas, é separado e coletado através de um equipamento automatizado, foi instalado ao longo do último semestre de 2007.
Naquele período, a sala de coleta foi adaptada e os técnicos do Hemopi foram capacitados para a novidade, que finalmente, entrou em funcionamento no dia 8 deste mês. O primeiro doador só poderia ser ele, o músico Caetano BC, o maior doador voluntário de sangue do Piauí, com mais de 70 doações no currículo, e um entusiasta da doação voluntária. “Ele fez questão de inaugurar o equipamento e nós atendemos”, disse a pedagoga.
Segundo ela, o novo equipamento está tendo um impacto favorável “muito grande” para os pacientes que precisam de plaquetas. A grande vantagem da coleta por aférese é o rendimento, uma vez que, em uma única coleta, é possível obter a mesma quantidade de plaquetas que seria obtida em até oito doações convencionais. “Isso é extraordinário, considerando que esse hemoderivado tem vida útil de apenas cinco dias”, diz Veronésia.
Os principais beneficiados com a aférese são pacientes com câncer, dengue hemorrágica, pessoas com coagulopatias e leucemia, entre outros. Veronésia Rosal disse que, a princípio, todos os pacientes que necessitam de hemocomponentes se beneficiam com o novo sistema, contemplando praticamente todos os pacientes internados nos hospitais de Teresina que precisam de plaquetas. Com o equipamento, o Hemopi se equipara aos mais modernos centros de hematologia do país, nesse tipo de serviço.
Integração com a comunidade científica
Outro serviço instalado pelo Hemopi é destinado aos funcionários e técnicos, mas com repercussão na vida dos pacientes e doadores voluntários. Trata-se da Sala de Teleconferência. O Hemopi é o segundo hemocentro do país a instalar esse recurso. O primeiro foi o hemocentro do Rio Grande do Norte.
A Sala de Teleconferência permite que os técnicos do Hemopi participem de encontros com a participação de especialistas de outros estados sem que precisem sair das dependências do próprio Hemopi, reduzindo custos com viagens. “Poderemos aprimorar nossos conhecimentos, trocar experiências e aprender o que há de mais novo em técnicas de coleta”, disse.
Segundo orientações da área de educação e saúde, do Ministério da Saúde, todos os hemocentros do país terão salas de teleconferência e nesse sentido, o Hemopi saiu na frente. “Teremos maior integração com a comunidade científica, além de redução drástica no tempo e custos com capacitação, pois trocaremos informações em tempo real com outros grupos em qualquer local do país, sem sair do Hemopi”, afirmou Veronésia Rosal.
Avanços no Teste do Pezinho
Outra novidade é o Laboratório de Hematologia e Hemostasia, cujos primeiros passos no processo de instalação já começaram. A licitação para compra de equipamentos está adiantada. Com o laboratório, o Hemopi poderá retomar os testes de imunofluorescência, suspensos desde 2002. Até agora, os testes estão sendo feitos em grandes centros, sobretudo em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A compra de kits para que os exames sejam feitos no Hemopi já começou.
Segundo informações do supervisor de Imunohematologia do Hemopi, Francisco Pires, o laboratório possibilitará exames com o que há de mais moderno no setor. “Teremos melhor suporte terapêutico dispensado aos pacientes. Poderemos fazer exames específicos para atender pessoas com anemia crônica, por exemplo”, explicou Pires.
Além disso, o laboratório possibilitará melhor assistência aos pacientes e exames de alta complexidade. “Não há dúvidas de que nos tornaremos um centro de referência também para exames do Teste do Pezinho”, afirmou.
Um passo adiante na classificação sanguínea
O sistema de fenotipagem eritrocitária em microplacas é outra novidade que o Hemopi está instalando. O implantação começou no último semestre de 2007 e está adiantada. Segundo Francisco Pires, o Hemopi poderá avançar na classificação sanguínea. O sistema atual permite a classificação segundo o padrão Rh-ABO. Com a fenotipagem eritrocitária em microplacas, poderá fazer mais classificações, possibilitando uma triagem completa de todos os antígenos com importância clínica.
Essa maior capacidade de classificação sanguínea é importante, dentre outros aspectos, para evitar a aloimunização dos pacientes. É o que ocorre, por exemplo, quando há contato do sangue de uma mãe com sangue Rh negativo com o sangue de um feto Rh positivo. O desenvolvimento de anticorpos anti-D, conhecido como aloimunização, pode gerar acometimento fetal grave. Daí a importância da fenotipagem eritrocitária em microplacas, aplicada ao exame pré-natal.
Pires explicou que para evitar a aloimunização dos pacientes é preciso diminuir o número de reações transfusionais e isso é possível quando se faz a fenotipagem eritrocitária em microplacas, que o Hemopi está implantado. A primeira reunião técnica para aquisição dos equipamentos aconteceu segunda-feira, 21. A equipe do Hemopi já está treinada e o espaço físico onde o serviço será instalado já está preparado.
Cadastro tem 200 mil doadores piauienses fidelizados
Todas essas inovações permitem ao Hemopi recuperar 15 anos de atraso. “Podemos dizer que, só agora, começamos a funcionar como devemos. Nós estamos passando de um simples banco de sangue a difusor de políticas públicas nessa área”, avaliou a diretora do Hemopi, Neuma Café.
De acordo com ela, a grande meta do Hemoentro é avançar na melhoria da qualidade das transfusões e dos serviços prestados à sociedade. Ela disse que o potencial do Piauí é grande, nesse aspecto.
Para isso, o órgão conta com o apoio de milhares de piauienes. “Somos um dos poucos estados brasileiros onde não falta sangue. Temos doadores suficientes. Nosso cadastro tem cerca de 200 mil doadores voluntários fidelizados e eles sempre respondem, quando solicitados. Com os novos equipamentos e serviços, estamos perto de chegar e mesmo ir além do ponto onde outros hemocentros chegaram”, disse. Todos os piauienses se beneficiam com isso.