A primeira fábrica estatal de preservativos do Brasil, localizada em Xapuri, no Acre, foi inaugurada nesta segunda-feira (07/04). A fábrica é a primeira do mundo a produzir preservativo com látex natural de seringueira nativa. Participam da cerimônia o secretário de Vigilância em Saúde, Gerson Penna, o governador do Acre, Jorge Viana, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o secretário estadual de Saúde, Osvaldo de Sousa Leal Júnior.
A fábrica tem capacidade para produzir 100 milhões de unidades de preservativos por ano. Com 2.664 metros quadrados de área construída, a fábrica tem espaço suficiente para aumentar o número de máquinas e ampliar a produção anual para 270 milhões de unidades de preservativo. A construção, que durou três anos, foi baseada nos conceitos de desenvolvimento sustentável, social e ambiental.
O empreendimento gera 150 empregos diretos e envolve 550 famílias da Reserva Extrativista Chico Mendes, responsáveis pela extração do látex para produzir o preservativo, cujo nome será Natex. A matéria-prima coletada fica em dez pontos de armazenamento, na floresta, até seguir para a fábrica.
O rendimento médio de cada seringueiro é de R$ 350 por mês. Com a fábrica, estima-se que essa população terá uma renda gerada de aproximadamente R$ 2,2 milhões por ano. Até o fim de 2008, o número de famílias envolvidas na extração do látex poderá chegar a 700. A atividade extrativista representa cerca de 83% da renda familiar dos habitantes do Acre.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Xapuri – terra do seringueiro Chico Mendes, assassinado em dezembro de 1988 – tem aproximadamente 15 mil habitantes, dos quais 25% são seringueiros que vivem na Zona Rural. Estima-se que, para a fábrica, serão extraídas 500 mil toneladas de látex por ano, o que corresponde a 8% da produção anual de todo o estado. Por ano, o Acre produz 6,2 milhões de toneladas de látex.
Ao todo, foram investidos R$ 31,3 milhões na construção da fábrica, na compra de equipamentos e no treinamento de mão-de-obra. Do total de recursos, R$ 19,7 milhões foram aplicados pelo Ministério da Saúde e pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Também foram investidos recursos do Ministério da Integração Regional, da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), da Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Produção nacional
A idéia de construir a fábrica partiu da necessidade de investir na indústria nacional de produção de preservativos, diminuindo a dependência de importação do insumo – quase 100% dos preservativos distribuídos pelo Ministério da Saúde vêm de outros países, principalmente da Ásia, como China, Coréia e Tailândia. Hoje, o Brasil tem três produtores privados de preservativos.
Outro motivo que impulsionou a construção da fábrica é o fato de o Brasil ser rico em látex. Além disso, o Acre já desenvolve um amplo programa de incentivo ao desenvolvimento da cadeia produtiva de borracha natural, matéria-prima para a produção do preservativo. A borracha é o principal produto extrativista do Acre, de importância estratégica tanto para a conservação da biodiversidade quanto para o desenvolvimento social e econômico da região.
Benefícios
Com a produção da fábrica, o Ministério da Saúde pretende ampliar o acesso da população do país ao preservativo masculino. Em 2007, foram distribuídos 120 milhões de unidades.
A iniciativa também trará vantagens ao meio-ambiente, por meio do manejo sustentável da floresta, do uso racional dos recursos naturais e da incorporação de tecnologia adaptada à realidade das populações extrativistas. Além disso, nos 24 seringais que participam do projeto, localizados nos municípios de Xapuri, Brasiléia e Acrelândia, foram instaladas 200 unidades de saneamento básico (fossa e sumidouro) e 170 kits de energia solar em residências.
A decisão do empreendimento baseou-se em estudos de viabilidade técnica e econômica que envolveu a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto Nacional de Tecnologia (INT), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac) e outros órgãos do governo estadual, e a Cooperativa Agro-extrativista de Xapuri (Caex), além de empresas privadas.