O Relatório Motivo/Causa de admissão do Pronto-Socorro do Hospital Getúlio Vargas (HGV), divulgado hoje, 02, mostra que durante o mês de junho foram registrados 6.975 atendimentos. Desse total de atendimentos 59,35% são da capital. Depois de Teresina, o município que mais enviou pacientes ao HGV foi Timon, responsável por 6,41% dos atendimentos.
O número de vítimas de acidentes de trânsito impressiona: 897 casos, sendo que 690 conduziam motos, o que corresponde a 9,89% do total de atendimentos ali realizados em junho. Também deram entrada 90 vítimas de atropelamento e 117 que se envolveram em acidentes de carro.
O elevado índice de acidentes de trânsito registrados, principalmente nos finais de semana em Teresina, continua a superlotar os setores de Traumatologia e Ortopedia do Pronto-Socorro do Hospital Getúlio Vargas. “Pelo menos 40% dos leitos do Pronto-Socorro são hoje ocupados por vítimas de acidentes de trânsito. O número de atendimentos é ainda maior no período que vai da sexta-feira à madrugada de domingo, em todas as semanas”, disse o diretor geral do HGV, Noé Fortes.
Os acidentes envolvendo motocicletas são os que mais preocupam, não apenas pela alta incidência, mas também porque os acidentes com motos, com freqüência, deixam seqüelas e, conseqüentemente, exigem um maior tempo de internação.
No Piauí, Teresina e Picos são as cidades que registram os maiores índices de acidente de trânsito e consequentemente de vítimas. Os gastos com esses pacientes são elevados. “A média de gastos mensais com os pacientes atendidos no Pronto-Socorro do HGV é de R$ 640 mil. Se pegarmos a média de atendimentos em junho, vamos constatar que com vítimas de acidentes de trânsito gastamos cerca de R$ 390 mil e somente com vítimas de acidentes com motos esse valor foi de aproximadamente R$ 64 mil. È um custo muito alto se compararmos com os gastos em outras áreas”, afirma o secretário de Saúde, Assis Carvalho.
É fácil perceber essa realidade quando se anda pelas enfermarias e corredores do Pronto-Socorro. No sábado à noite, 28 de junho, próximo à sala onde os pacientes aguardam atendimento dava para ouvir uma conversa ao celular. “Bati a moto de novo...”, dizia Marcos Santos, 35 anos, pedreiro, com fratura na perna esquerda depois de colidir com um caminhão. “O acidente só ocorreu porque fiz uma ultrapassagem de forma irresponsável”, explica Marcos Santos. Enquanto isso, em uma enfermaria, a estudante Regina Lopes, 19 anos, aguardava por uma cirurgia na perna. Ela diz que foi atropelada por um carro quando ia para um aniversário na casa de uma amiga. “Eu acho que o motorista estava bêbado, pois ele corria demais e não parou para me socorrer”, acrescenta a estudante.
O relatório revela ainda que no mês passado foram registradas 1.070 entradas de vítimas de quedas, principalmente de idosos. As vítimas de agressão física com arma branca somaram 90 casos, enquanto que com arma de fogo foram 49 casos. Somente um caso de lesão provocado por fogos de artifícios foi registrado. Problemas mais simples como diarréia (168 casos), vômitos (37 casos), dor de cabeça (110 casos) dentre outros, também contribuem para a superlotação do PS. Alguns usuários dizem que quando chegam aos hospitais da periferia são orientados a procurarem o Pronto-Socorro do HGV.
Mobilização contra a violência
Pensando a violência como um problema de saúde pública, o Conass promoveu uma série de seminários regionais com o tema “Violência: uma epidemia silenciosa”, com o objetivo de discutir ao tema no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Para o gerente do Núcleo de Epidemiologia da Secretaria Executiva do Conass (Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde), Nereu Mansano, apesar do grande destaque que a mídia vem dando ao tema da violência, este ainda é freqüentemente abordado como um assunto restrito a segurança pública. “Acontecimentos trágicos envolvendo homicídios, violência no trânsito, suicídios são relatados quase todos os dias, de forma a ser, muitas vezes, considerados como acontecimentos banais. A dimensão total do fenômeno bem como seus modos de produção e, em especial, suas repercussões sociais principalmente na área da saúde, passam muitas vezes despercebidas”, afirma.
As taxas de mortalidade são apenas uma parte das estatísticas, uma vez que o número de pessoas vitimadas com seqüelas é muito maior. Diariamente os serviços de saúde recebem em situações de urgência e emergência. A violência impacta nos custos do Sistema Único de Saúde valores de quase R$ 1 bilhão por ano, segundo estimativas feitas pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), com base em dados de 2004. “Não pode ser quantificado, no entanto, o sofrimento das famílias das vítimas e o quanto a violência, seja ela qual for, causa de impacto no estado emocional das pessoas em geral, principalmente nas áreas urbanas”, diz Nereu Mansano.
Violência no trânsito em números
Dados preliminares do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde referentes a 2006 indicam que neste ano ocorreram 34.954 mortes no trânsito, uma média de 96 por dia.
As taxas de mortalidade por acidentes de trânsito eram crescentes até 1996 (quando a taxa foi de 22,5 por 100 mil habitantes), apresentando uma queda significativa a partir de 1998, ano de implantação do Código Nacional de Trânsito, voltando a apresentar discreto aumento no período entre 2000 e 2004, uma nova redução em 2006, quando a taxa foi de 18,7 óbitos por 100 mil habitantes. Chamam atenção neste grupo os óbitos envolvendo motocicletas, cujas taxas aumentaram nos últimos 10 anos (de 0,6 por 100 mil habitantes em 1997 para 3,7 por 100 mil em 2006).
Em números absolutos foram 956 óbitos em 1997 e 6.941 mortes em 2006 envolvendo acidentes com motocicletas. As maiores taxas de mortalidade por acidentes de trânsito ocorreram nas regiões Sul e Centro-Oeste (25,1 e 24,5 mortes por 100 mil habitantes). As menores taxas foram das regiões Norte e Nordeste (16 e 16,4 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente).