A edição do Jornal O Dia de hoje, 17, traz artigo publicado sobre Educação Permanente em Saúde. O artigo foi elaborado pelo educador e coordenador de Educação Permanente da Secretaria da Saúde, Narcizo de Souza Chagas e pelas preceptoras Adriana Siqueira do Nascimento Marreiro e Carla Cabral Gomes Carneiro.
Confira o artigo na íntegra:
A ARTE DE CUIDAR
Pensar e fazer saúde pública no Piauí é um desafio e uma arte. A extensão territorial do estado impõe que estratégias sejam permanentemente revisadas e re-elaboradas, objetivando o cuidado com a saúde das pessoas. A vasta gama de municípios ao tempo em que possibilita a diversidade de iniciativas, dificulta o desenho de uma fórmula comum, permitindo ao artista da saúde, a oportunidade de ser criativo no desenvolvimento de ações que melhorem as condições de vida do povo.
O SUS é uma proposta extraordinária de política pública. Ao completar 20 anos, já na sua maioridade, vem compreendendo que precisa estar mais conectado às necessidades locais, valorizando e potencializando as iniciativas loco – regionais. Nesse sentido, através da Portaria ministerial nº 1996/07 que dá diretrizes à Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, estabelece as orientações básicas para a reformulação das relações entre ensino, serviço, participação social e gestão do sistema, propondo uma nova lógica nos processos de trabalho e educação na saúde.
Nessa perspectiva, a criação das CIES – Comissões de Integração Ensino-Serviço, pressupõe a formação de espaços fomentadores de diálogos e de pactuações entre municípios vizinhos, territórios, estado e união, elaborando uma plataforma de formação e qualificação que atenda as realidades locais do SUS e da população diretamente.
A oportunidade de refletir e dialogar com diversos sujeitos do processo da saúde, remete a uma mudança de paradigma e supera a visão do SUS como instrumento para remediar a exclusão e a desigualdade sócio-econômico-cultural. Politicamente isto aponta que cabe ao SUS atuar como fomentador de práticas de vida saudável, constituindo redes de assistência, cidadania e de controle social, pautados na saúde como direito, garantia universal, eqüitativa e integral.
Um dos pilares de sustentação desse sistema encontra-se nos sujeitos que o fazem. Desta forma, a formação dos profissionais da área da saúde e dos trabalhadores do SUS deve estabelecer recortes permanentes de interdisciplinaridade, multiprofissionalidade e intersetorialidade, inserindo-se nos contextos dos processos culturais, econômicos, sociais e políticos dos territórios.
A educação permanente em saúde é uma construção coletiva, e não pode ser de outro jeito. Ela é naturalmente multifacetada e pluricultural, pois se funda nos valores humanos e no espírito do cuidado e da valorização dos sujeitos da saúde. A arte de cuidar passa fundamentalmente pela superação do individualismo e da patologia do em-si-mesmo, postulado por visões de mundo verticalizadas, coorporativas e egocêntricas da verdade cientifica. Para além, considera os sentidos humanos balizados no respeito ao outro, na escuta e no diálogo.
Contudo, os investimentos humanos, estruturais e financeiros não bastam em si mesmos, se não representarem uma opção estratégica dos gestores da saúde e da sociedade para forma de cuidar da saúde da nossa gente. Gente é pra brilhar!
Compreender a dimensão sistêmica da educação permanente em saúde nos permite visualizar e experimentar a leveza e a delicadeza que temos de ter no processo em curso, uma vez que nos desinstala de nossos mecanismos patológicos de autodefesa e nos permite fluir no espírito da reciprocidade à humanidade e a vida. O desafio está posto a todos que fazem o sistema no Piauí. A arte do cuidar é esta: permitirmo-nos aventurar fortemente no aprendizado e trabalho como missão de amor.