O “Clube dos Enta” foi o slogan escolhido para chamar atenção da população acima de 50 anos. Este ano o Dia Mundial de Luta contra a Aids faz um alerta para essa faixa etária, onde a incidência de Aids tem crescido vertiginosamente nos últimos anos.
A análise da série histórica da epidemia feita pelo Ministério da Saúde mostra que a taxa de incidência entre pessoas acima dos 50 anos dobrou entre 1996 e 2006. Passou dos 7,5 casos por 100 mil habitantes para 15,7. A maioria dos casos de Aids, porém, ainda está na faixa etária de 25 a 49 anos.
No Piauí não é diferente. Dos 3.228 casos notificados da doença entre as anos de 1996 e 2007 apontam que 2.022 são residentes no Piauí, 1.206 residentes em outros estados mais diagnosticados aqui. Dentro da faixa etária para a qual se dedica a campanha deste ano temos 171 homens acima de 50 anos infectados com o vírus HIV e 38 mulheres nesse mesmo período.
Hoje para lembra a passagem da data, várias atividades foram realizadas em pontos estratégicos da cidade. O último evento será uma grande caminhada que vai lembrar todas as pessoas que foram vítimas da epidemia no Estado. Será às 18h na Praça Pedro II.
No Brasil os números são preocupantes. Dos 47.437 casos de Aids notificados desde o início da epidemia em pessoas acima dos 50 anos, 29.393 (62%) foram registrados de 2001 a junho de 2008. Desse último grupo, 37% são mulheres e 63%, homens.
Segundo Mariângela Simão, do Programa Nacional de DST/Aids no Ministério da Saúde, os preconceitos que cercam a vivência da sexualidade em pessoas acima dos 50 anos limitam e dificultam a abordagem sobre o HIV. “A Aids sempre foi vista como uma doença de jovens e adultos, como se a população mais velha não fosse sexualmente ativa. Mas os números mostram que a epidemia cresceu nessa população, principalmente nos últimos anos”, afirma.
O coordenador de Doenças Transmissíveis da Secretaria da Saúde, George Monteiro, aponta alguns aspectos que influenciaram para que a epidemia de Aids atingisse cm toda força a população mais idosa. “Nas últimas décadas, o cenário da sexualidade do idoso passou por muitas transformações que afetaram o comportamento sexual deste grupo populacional. O aumento da expectativa de vida, o surgimento de novas drogas para disfunção erétil, medicamentos que minimizam os efeitos da menopausa e o uso de lubrificantes da relação sexual são alguns destes aspectos”, explica o psicólogo e coordenador.
Como uma resposta a tal realidade, o Programa Nacional de DST e Aids fará campanha de direcionada a essa população, lançada hoje. Utilizando o slogan “Sexo não tem idade. Proteção também não”, o objetivo é despertar nos adultos maduros e nos idosos a importância do uso do preservativo nas relações sexuais.
No Piauí algumas ações estão sendo desenvolvidas para enfrentar a epidemia. Dentre elas podemos citar: a criação do Programa de Atenção Integral à Saúde do Homem vinculado a coordenação de atenção a saúde do adulto e idoso; assistência a saúde sexual da população carcerária; Atenção Integral à Saúde do Homem vivendo com HIV (serviço de assistência especializada no Instituto de Doenças Tropicais Natan Portela); campanhas educativas para a sensibilização e mobilização comunitária pelo enfrentamento da epidemia de Aids; articulação entre os organismos governamentais, não-governamentais e da iniciativa privada; fortalecimento do Centro de Testagem e Aconselhamento e da distribuição de insumos de prevenção, entre outras.
Sexo e faixa etária – Da população geral diagnosticada com aids desde o início da epidemia até junho de 2008, foram identificados 333.485 (66%) casos de aids em homens e 172.995 (34%) em mulheres. A razão de sexo no Brasil diminui ao longo da série histórica – em 1986 eram 15 casos no sexo masculino para um no sexo feminino. Desde 2000, há 15 casos entre eles para 10 entre elas. Essa aproximação na razão de sexo reflete a feminização da epidemia.
Alguns fatores que contribuem para a vulnerabilidade das mulheres à aids são: desigualdade nas relações de poder; maior dificuldade de negociação das mulheres quanto ao uso de preservativo; violência doméstica e sexual; discriminação e preconceito relacionados à raça, etnia e orientação sexual; além da falta de percepção das mulheres sobre o risco de se infectar pelo HIV.
A forma de transmissão predominante é por via heterossexual tanto no sexo feminino (90,4% dos casos) como no masculino (29,7% dos casos). Entre os homens, a segunda principal forma de transmissão é homossexual (20,7% dos casos), seguida de usuários de drogas injetáveis (19%). Nas mulheres, a segunda forma de transmissão é entre usuários de drogas injetáveis com 8,5% dos casos.
Por Sana Moraes