Em 2007, o Hospital Nilo Lima em Castelo do Piauí (190 km ao norte de Teresina) ganhou um serviço de reabilitação física. O Centro de Fisioterapia há muito tempo era aguardado pelos moradores, mas ninguém estava mais ansiosa que Lucineide Mineiro, mãe da pequena Mirna Evelin, que hoje está com 13 anos. Mirna é tetraplégica desde os cinco anos de idade e antes não fazia fisioterapia por questões financeiras. O fato mais curioso da história é que a menina mora em frente ao hospital. A mãe conta que a filha já chegou a ficar internada por oito meses em Teresina, foi atendida na Rede Sara Kubitscheck, em São Luís (Maranhão), mas como as dificuldades eram muitas, foi aconselhada a voltar e a filha ficou dois anos sem fazer fisioterapia. Lucineide comemora os avanços da filha. “Ela fica atenta às conversas, reage aos sons, o movimento nas mãos está melhor. A fisioterapia ajudou muito”, conta a mãe. Para auxiliar no tratamento, Mirna hoje faz aplicações mensais de toxina botulínica, tem acompanhamento neurológico no Hospital Infantil Lucídio Portella, e faz fisioterapia duas vezes por semana no Centro de Fisioterapia que fica em frente à sua casa. Em Castelo do Piauí, o serviço de Reabilitação teve um investimento de R$ 89.712,61 - com recursos do Ministério da Saúde e Governo do Estado – para atender 2.109 pessoas com deficiência física e motora. Outra história vem do Sul do Piauí, da cidade de Paulistana (município a 350 km da capital). Aldemar José de Amorim, hoje com 54 anos, é um dos pacientes do Centro de Reabilitação inaugurado no final de 2007. Em março de 2001 ele sofreu um acidente vascular cerebral, ficou oito dias internado e achou que nunca mais ia andar. “Com 30 dias de fisioterapia eu consegui ficar em pé, andava com a ajuda de uma cadeira e tomava banho sozinho. Com dois meses eu já caminhava sem ajuda”, conta. Agora, ele leva uma vida normal. “Hoje eu sou independente. Moro sozinho, troco de roupa, tomo banho, caminho pela cidade toda”, conta entusiasmado. Aldemar diz, ainda, que a fisioterapia foi o melhor remédio para ele. “Minha boca também era torta, mas hoje ela está normal”, conta. O fisioterapeuta Frederico Diniz explica que antes existia em Paulistana um centro de fisioterapia municipal, mas que a estrutura não era satisfatória. “Com essa parceria entre o Estado e o município foi possível melhorar a nossa estrutura física e agregamos os equipamentos do antigo centro aos novos que chegaram. Hoje temos um espaço todo adaptado, com acessos adequados”. Entre janeiro de 2008 e janeiro de 2009 o Centro de Fisioterapia de Paulistana realizou 5.805 atendimentos. Aldemar Amorim se prepara agora para mais uma conquista: a compra de um carro adaptado para poder voltar a trabalhar como feirante. “Ele ficou com seqüelas do AVC, por isso precisa de um carro adaptado às suas necessidades, já que não possui mais reflexos para frear”, conta Diniz acrescentando que é gratificante saber que com o seu trabalho é possível ajudar tantas pessoas a melhorarem a sua qualidade de vida. Estes são apenas dois dos mais de 30 centros que vão compor a Rede Estadual de Reabilitação, composta por serviços de baixa, média e alta complexidade. Reabilitação Física e Motora O Complexo Estadual de Reabilitação em Saúde e Educação Daniely Dias, inaugurado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva em maio de 2008, é o coração de um projeto ousado do Governo do Piauí: a concepção de uma Rede Estadual de Reabilitação, idealizada, articulada e coordenada pela secretária estadual para Inclusão da Pessoa com Deficiência, Rejane Dias. O Complexo foi construído pelo Governo do Estado, através de projeto elaborado pela Seid e pelas Secretarias Estaduais de Saúde e Educação, em parceria com o Governo Federal, através dos Ministérios da Saúde e da Educação. O Complexo é composto pelo CEIR (Centro Integrado de Reabilitação e pelo CIES (Centro Integrado de Educação Especial), tornando-se referência em todo o Nordeste e até no Brasil, no atendimento às pessoas com deficiência. Para o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, a idéia do Complexo, no formato implantado pelo Piauí, com a parte educacional trabalhando a inclusão escolar no ensino regular de crianças com deficiência mental e com a parte da saúde atendendo crianças e adultos com deficiência física e motora, é pioneira no Brasil. O CEIR oferece atendimento às pessoas com deficiência física e motora, proporcionando condições de reabilitação que favoreçam o convívio social e o desenvolvimento de atividades diárias dos pacientes. Quando estiver em pleno funcionamento terá capacidade para realizar cerca de 1.400 atendimentos por dia. Uma das vantagens do CEIR é que num único dia e no mesmo local, o paciente poderá receber vários atendimentos como fisioterapia, hidroterapia, terapia ocupacional, de acordo com o a indicação médica. Ao todo foram investidos cerca de R$ 8,5 milhões na construção e na aquisição de equipamentos para o CEIR, sendo R$ 4,5 milhões do Governo Federal e R$ 4 milhões do Governo do Estado. Rede de Reabilitação “A descentralização do atendimento é o grande diferencial desse projeto. Criando serviços de referência em cidades pólos de acordo com o que preconiza o Ministério da Saúde. Antes desse Governo não existia atendimento terapêutico nessa área de atenção à saúde da pessoa com deficiência”, lembra Rejane Dias. A Secretaria de Saúde é a operadora do projeto que está implantando 34 unidades de fisioterapia em todas as regiões do Piauí, até o final de 2010. A Rede Estadual de Reabilitação se constitui de centros de diferentes complexidades instalados em áreas estratégicas definidas de acordo com o índice de deficiência de cada região e a importância do atendimento dentro da rede. Já foram inaugurados os Centros de Água Branca, Buriti dos Lopes, Castelo do Piauí, Esperantina, Itaueira, Jaicós, José de Freitas, Pedro II, Paulistana, São João do Piauí, São Pedro do Piauí, Campo Maior e Picos (média complexidade). Fazem parte da rede, ainda, com sede em Teresina, a Clínica de Fisioterapia do Hospital Getúlio Vargas, que faz média complexidade dentro da Rede de Reabilitação, e o CEIR, que faz atendimento multidisciplinar em alta complexidade. Dois centros já estão com as obras concluídas: Altos e Batalha. Os outros centros estão em fase de acabamento (Amarante, Canto do Buriti, Fronteiras, Gilbués, Luiz Correia e Simplício Mendes), em construção (Demerval Lobão, Luzilândia, São Miguel do Tapuio), ou sendo licitados e iniciarão o serviço até 2010 (Cocal, Curimatá, Guadalupe, Elesbão Veloso e União) Em fase de projeto (Miguel Alves, Parnaíba, Regeneração, Uruçuí e Valença). Sendo que Parnaíba será um centro de média complexidade. Está sendo feito um levantamento para que as cidades de Floriano, Oeiras, São Raimundo Nonato, Bom Jesus e Barras sejam incluídos na rede. Em 2007, 22,47 % das pessoas com deficiência física, que totalizam 145 mil pessoas em todo o Piauí, tiveram a sua disposição serviços de reabilitação próxima ao seu local de residência; já em 2008, essa cobertura aumentou para 25,03%. Oficina de órteses e próteses O Piauí foi contemplado com a implantação de uma Oficina Ortopédica que funciona dentro do CEIR. Técnicos foram treinados na área de órteses (aparelhagem que corrige a deficiência de um órgão, membro ou função do corpo como, por exemplo, cadeiras de rodas, óculos, muletas, etc.) e próteses (aparelhagem que substitui um órgão, membro destruído ou gravemente comprometido). Deficiência Auditiva A Triagem Auditiva Neonatal, ou Teste da Orelhinha, geralmente é feita a partir do terceiro dia de vida do bebê, sendo que o diagnóstico deve ser fechado até os três meses de vida e a intervenção iniciada até os seis meses. “Quanto mais rápido o diagnóstico, melhor para que a criança não tenha perdas graves da linguagem”, explica a fonoaudióloga Fernanda Lapenda. A Maternidade Evangelina Rosa é referência no Estado para a realização do Teste da Orelhinha. Em 2008, foi adquirido pela Secretaria da Saúde um aparelho que realiza emissões otoacústicas usado para os testes e diagnóstico no valor de R$ 77.830,00. E enviou uma proposta de projeto para o Ministério da Saúde objetivando a compra de mais quatro aparelhos de medição otoacústicas para Picos, Parnaíba, Bom Jesus, que já possuem pessoal qualificado para operar o aparelho, e mais um para a Maternidade. “Dessa forma, pretendemos descentralizar mais esse atendimento, a exemplo do que já é feito com o Teste do Pezinho e com os serviços de fisioterapia”, explica Rosário Leal, coordenadora estadual de Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência. A coordenadora do Centro de Triagem Auditiva Neonatal da Maternidade Evangelina Rosa, Adriana Rufino, conta que o serviço foi implantado em 2005, mas atendia somente aos recém-nascidos de alto risco. A partir de 2007, passou a atender a todos os bebês. A aquisição do aparelho de emissões otoacústicas e BERA automático facilitou o diagnóstico. “O aparelho possibilita o teste completo propiciando, assim, um diagnóstico mais preciso e rápido”, afirma Adriana. Segundo dados da Maternidade Dona Evangelina Rosa, nos últimos dois anos, mais de cinco mil testes foram realizados e os números se refletem positivamente nos serviços credenciados para atender média e alta complexidade, onde mais de três mil pacientes já recebem atendimento gratuito através do SUS. Em 2007, a Maternidade realizou 2.452 testes da orelhinha. Em 2008, esse número cresceu e 2.579 crianças passaram pelo teste. O SUS credenciou duas clínicas do setor privado para fazer o acompanhamento dos pacientes que necessitam de próteses auditivas. Entre os anos de 2007 e 2008, os avanços na área de deficiência auditiva podem ser observados pelos números de pacientes protetizados. “No ano de 2007, foram 723 pessoas, e em 2008 até o mês de setembro, 811 pessoas com deficiência auditiva protetizadas. O que representa um aumento de 12,17% em relação ao ano anterior”, comemora a coordenadora Rosário Leal. A Clínica Flávio Santos está habilitada para o atendimento de média complexidade de 60 pacientes por mês. Crianças a partir dos três anos de idade sem síndromes associadas podem receber tratamento e próteses. A Clínica Otorrinos está habilitada para o atendimento de alta complexidade de 40 pacientes mensais, a partir dos primeiros dias de vida, com síndromes associadas como complicações neurológicas, por exemplo, que precisam de atendimento mais complexo. No final de 2008, o Hospital Lineu Araújo, em Teresina, que faz parte da rede municipal de saúde, foi credenciado para realizar o serviço de alta complexidade, atendendo 60 pacientes por mês. Em 2007, 1.703 pacientes receberam próteses auditivas através do SUS o que equivale a um investimento de R$ 1.551.600,00. Em 2008, até o mês de agosto, os recursos aplicados com próteses eram da ordem de R$ 1.042.000,00 beneficiando 1.464 pacientes beneficiados. Triagem Neonatal – Teste do Pezinho O serviço de triagem neonatal está presente em 204 municípios piauienses e o número de exames tem sido crescente. Em 2007, nos 199 postos de coleta foram realizados 35.038 exames, sendo diagnosticadas 14 crianças com hipotireoidismo. Em 2008, o número de postos de coleta e a quantidade de exames aumentaram: 236 postos realizaram 35.671 exames, sendo 13 crianças diagnosticadas com hipotireoidismo e uma com fenilcetonúria. “A previsão é de que até julho de 2009. o teste do pezinho chegue a 100% dos municípios”, afirma Rosário Leal. Estes números indicam que a cobertura do Teste do Pezinho realizado nos bebês nascidos vivos chega a 74,16%, segundo dados do SINASC (Sistema de Informação de Nascidos Vivos) do Ministério da Saúde. Todo o tratamento é custeado pelo SUS. Após o resultado positivo do Teste do Pezinho o paciente é encaminhado ao Serviço de Referência que funciona no Hospital Infantil Lucídio Portella. “Todas as crianças que apresentam alterações nos exames são convocadas para a confirmação do resultado. Quando chegam aqui no Hospital Infantil elas são examinadas por uma equipe multiprofissional formada por endocrinologista, pediatra, assistente social, psicólogo e nutricionista”, explica a coordenadora do serviço de triagem neonatal do Hospital Infantil, Ana Marcolino. Luciene Ribeiro tem duas filhas, Mayara e Márcia, que foram diagnosticadas com fenilcetonúria. As duas são acompanhadas pela equipe do Hospital Infantil. “Elas foram as duas primeiras pacientes atendidas aqui em Teresina”, diz a mãe. Silvana Lacerda é mãe de Adelaide que foi diagnosticada pelo teste do pezinho aos seis meses e faz tratamento no Hospital Infantil. “Ela iniciou o tratamento ainda bebê e hoje leva uma vida normal, estuda, brinca, passeia e segue uma dieta para controlar a doença”, conta. A primeira fase do Teste do Pezinho, que detecta doenças como o hipotireoidismo e a fenilcetonúria, foi implantada há três anos. Agora o Piauí se prepara para a fase II, onde será detectada a anemia falciforme e outras doenças do sangue. Nesta segunda etapa, duas novas especialidades serão adicionadas ao tratamento dos pacientes: enfermagem e hematologia. Foram iniciadas em janeiro de 2009 as capacitações dos profissionais que trabalham diretamente com a triagem exigidas pelo Ministério da Saúde para a implantação da fase II do Teste do Pezinho. Já foram capacitados profissionais nas regionais de Corrente, Picos, Oeiras, Floriano, Bom Jesus, Parnaíba, Piripiri. Até o mês de março, estarão concluídas as capacitações em São Raimundo Nonato, Teresina, Barras e Campo Maior. Além do acompanhamento médico, os familiares têm ainda apoio psicológico para aprender a lidar com o problema de saúde dos filhos. “Logo após a confirmação do diagnóstico, fazemos o acolhimento da família. Esse é um momento difícil, onde eles têm muitas dúvidas e aqui ajudamos a esclarecer”, explica a psicóloga Alessandra Fortes. No Serviço de Referência, os familiares ficam sabendo também dos direitos que os pacientes têm. “Os pacientes de outros municípios tem direito ao TFD (Tratamento Fora de Domicílio), e ainda a medicamentos que são fornecidos pela Central de Medicamentos da Secretaria da Saúde e ao agendamento de consultas”, esclarece a assistente social, Rosário Nunes. Edileusa Araújo faz um alerta a todas as mães. “Se a minha filha Joelma não tivesse feito o teste talvez até hoje a gente não saberia o que ela tem. Não seria a mesma coisa. Então as mães não devem deixar de fazer o teste”, aconselha. Atualmente, 50 crianças estão em tratamento, sendo 08 de fenilcetonúria e 42 de hipotireoidismo congênito. Deficiência Mental A Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) está credenciada para atendimento médico e terapêutico das pessoas com deficiência mental. “Toda instituição filantrópica que presta serviços às pessoas com deficiência mental e que possui os requisitos mínimos podem requerer o credenciamento junto ao SUS”, explica a psicóloga da Coordenação de Atenção à Pessoa com Deficiência, Leile Costa. Para que seja autorizado o credenciamento do serviço, a entidade prestadora deve ter uma equipe formada por médico (psiquiatra e/ou neurologista), fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, assistente social. Estão credenciadas junto à Secretaria da Saúde, as APAES de Teresina, Parnaíba, Piripiri, Esperantina e a Associação dos Pais e Amigos do Deficiente Auditivo (APADA) que funciona na capital. As APAE´s José de Freitas e Floriano estão ainda em processo de habilitação junto ao SUS. “Com o credenciamento desses serviços, teremos um crescimento em relação ao ano anterior, gerando um aumento significativo do número de pacientes/mês atendidos”, encerra Leile Costa. Colaboração: Assessoria de Comunicação da SEID