Na véspera do Natal do ano passado, o lavrador Sebastião de Sousa, 62 anos, foi vitimado por um acidente de moto na cidade de Cocal, região Norte do Estado. Socorrido pelo SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), foi removido para o Hospital Regional Dirceu Arcoverde, em Parnaíba (360 Km de Teresina), com lesões na cabeça e no corpo. Passou 10 dias internado na UTI. Marlene Sousa, trabalhadora rural, esposa de Sebastião, conta que a decisão de levar o marido para ser atendido em Parnaíba salvou a sua vida. “Aqui eles sabem o que fazem. Tem sempre uma equipe por perto. Meu marido foi muito bem atendido e conseguiu sobreviver”. O marido de Dona Marlene não é uma exceção. A capacidade de resolução dos hospitais regionais de todo o Piauí vem sendo melhorada para que, cada vez menos, os pacientes precisem ser transferidos para a capital. Há cinco anos, qualquer paciente que apresentasse complicações seria imediatamente transferido para Teresina. Hoje, o hospital que atende mais de oito mil pessoas por mês transfere em média 10 pacientes para hospitais da capital. Os pacientes do Dirceu Arcoverde têm o tempo de espera máximo de uma semana para cirurgias, logicamente com prioridade para as de urgência e emergência. Com 145 leitos, o Dirceu se tornou uma referência para a região Norte do Piauí, e para as cidades fronteiriças dos estados do Maranhão e Ceará. Com equipamentos de última geração no valor de R$ 2,5 milhões, doados pela Philips do Brasil, em 2005 e 2007, o Hospital Dirceu foi o primeiro macrorregional a avançar na questão da resolutividade. Foram feitas adequações na área física o que possibilitou a implantação de uma Unidade de Terapia Intensiva com 10 leitos inaugurada em 2005 e credenciada pelo SUS em 2007. Junto com a UTI, vieram também outros serviços de alta complexidade como o tomógrafo que possibilita, por exemplo, um diagnóstico mais rápido e preciso para os pacientes. O diretor do hospital, Eduardo Nogueira atribui essa capacidade resolutiva não somente a chegada desses novos serviços que alçaram o hospital para a alta complexidade, mas também aos profissionais que chegaram por meio do concurso público - possibilitando a formação de uma equipe estável – e aos investimentos em capacitação técnica promovidos pela Secretaria. Para o superintendente estadual de organização do sistema de saúde das unidades de referência, Eucário Monteiro, essa descentralização dos serviços de média e alta complexidade para os hospitais macorregionais têm auxiliado no aumento da resolutividade da rede pública de saúde. “A estabilidade da equipe trazida pelos profissionais concursados, a organização da rede com a municipalização, os investimentos, tudo isso contribuiu para o fortalecimento dos hospitais regionais”, afirma. MUDANDO PARA MELHOR Os hospitais da rede estadual em Teresina são de referência para todo o Estado. É para estas unidades que vão os casos mais complexos que não são resolvidos em toda a rede de saúde nas áreas de doenças tropicais, obstetrícia, pediátrica, psiquiátrica e procedimentos de alta complexidade em ortopedia e neurologia. Um dos exemplos dessa resolutividade que está se ampliando ainda mais é o Hospital Getúlio Vargas (HGV). A transferência do serviço de pronto-socorro do Hospital para o município de Teresina foi o início para as mudanças profundas pelas quais está passando o maior hospital público do Piauí rumo à excelência em alta complexidade. O diretor geral do HGV, Noé Fortes, considera como os maiores ganhos dos últimos dois anos, além da transferência do Pronto Socorro para a rede municipal, a implantação do Disque HGV, um sistema de marcação de consultas por telefone que possibilita acesso mais justo dos usuários do SUS a consultas e exames. E ainda a chegada de mais profissionais, já que o HGV foi a instituição mais beneficiada pelos concursos realizados entre os anos de 2005 e 2007. “Isso só foi possível graças a uma combinação de fatores”, destaca o diretor. “O planejamento das ações e a forma decisiva de conduzir da Secretaria da Saúde possibilitaram todas essas mudanças físicas e estruturais”. Um dos exemplos de alta resolutividade é a área de ortopedia. “Hoje o HGV possui a melhor clínica de ortopédica do Estado, em termos de equipamentos, temos alta demanda tanto de outros Estados como de municípios do Piauí”, diz o ortopedista Leonardo Eulálio, que trabalha no Hospital e é presidente do Sindicato dos Médicos do Piauí. Só no serviço de Traumato - ortopedia foram investidos R$ 2,3 milhões em equipamentos através de convênio com o Ministério da Saúde/INTO (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia). Isso tudo, complementado pela ampliação da Unidade de Terapia Intensiva para 21 leitos e equipamentos novos para agilizar ainda mais as cirurgias, ajudou o hospital a ser mais resolutivo. MAIS RESOLUTIVIDADE NO INTERIOR Quanto mais o hospital aumenta a resolutividade, mais a demanda aumenta. Em 2007, o Hospital Regional Deolindo Couto, em Oeiras (313 Km da capital) realizou 95.887 atendimentos (entre consultas, exames, internações e cirurgias). Em 2008, houve um aumento considerável. O Deolindo Couto realizou 102.076 procedimentos. Com os R$ 800 mil em equipamentos (recursos do Ministério da Saúde e governo do Estado) que recebeu em janeiro de 2009, a responsabilidade aumentou ainda mais. Foram mesas cirúrgicas, incubadora neonatal, eletrocardiógrafo, aparelhos de anestesia, dentre outros, que estão ampliando ainda mais a resolutividade dos atendimentos na microrregião, atendendo uma população de quase 120 mil pessoas. O Hospital vai ganhar ainda aparelhos para a cozinha e lavanderia. “Eu nasci nesse Hospital e lembro da situação em que ele se encontrava. Hoje ele atende média complexidade. Os investimentos feitos aqui vão garantir não só atendimentos para Oeiras, mas também para toda essa região”, disse o governador Wellington Dias. A Secretaria da Saúde está planejando a implantação de Unidades de Terapia Intensiva com sete leitos para os hospitais de Oeiras e Piripiri. Em Oeiras será feita uma reforma geral no hospital e ainda a ampliação do centro cirúrgico para que seja implantada a UTI. Os investimentos nos hospitais fazem parte das ações de reorganização da rede hospitalar intensificada pela Secretaria da Saúde desde 2007. Todos os hospitais estão recebendo equipamentos. Nos últimos meses, o Hospital Regional Eustáquio Portela, em Valença (210 Km de Teresina) também recebeu equipamentos. O Hospital Regional Justino Luz em Picos (330 km da capital) inaugurou sua Unidade de Terapia Semi-intensiva e o Hospital Regional Tibério Nunes de Floriano (253 km de Teresina) que já tem semi-UTI está em fase de construção uma UTI, com investimentos em torno de quase R$ 2 milhões. “A média mensal de transferências para Teresina é de 26 pacientes - o que corresponde a 3,2 % em relação ao número de internações - e 0,36 % em relação à quantidade de atendimentos mensais ocorridos na urgência e emergência do hospital de Picos”, diz a diretora do Hospital Regional Justino Luz, Valdeci Barros. Com a instalação de uma semi-UTI em janeiro deste ano, esta resolutividade aumenta ainda mais. O Estado investiu cerca de R$ 500 mil na Unidade de Terapia Semi-Intensiva para melhorar a prestação de serviços de alta complexidade na macrorregião de Picos, que compreende 60 cidades e uma população estimada em 450 mil pessoas. A unidade comporta pacientes com problemas cardíacos graves, complicações respiratórias, pacientes que estejam em estado de coma, entre outras enfermidades. Para a presidente do Conselho Regional de Enfermagem (COREN-PI), Maria do Rozário Sampaio, esse é um momento importante. “Com as melhorias que vêm sendo feitas no Hospital, como a implantação da semi-intensiva, o profissional de enfermagem tem mais segurança para prestar seus serviços com mais qualidade aos pacientes”, disse. A unidade foi equipada com aparelhos de alta tecnologia que garantem a assistência necessária aos pacientes. “Com esta iniciativa, a Secretaria dá continuidade ao plano de regionalização da saúde, fortalecendo o sistema de saúde local, ajudando a reduzir ainda mais a transferência de pacientes. Casos muito complexos agora poderão ser resolvidos em Picos”, afirmou Assis Carvalho. Já o Hospital Regional Tibério Nunes, de Floriano, se prepara para mais um etapa no seu processo de modernização. A Secretaria da Saúde está construindo uma Unidade de Terapia Intensiva com 10 leitos, incluindo leitos pediátricos. Todos os equipamentos já foram adquiridos e a obra física fica pronta até junho próximo. “Com a UTI poderemos atender melhor aos 28 municípios vizinhos. O fortalecimento dos hospitais regionais vai facilitar a regulação dos serviços de saúde e as unidades de saúde passam a ter capacidade para dar mais resolutividade no atendimento aos pacientes”, afirma a diretora Francisléia Morais. O investimento no Hospital de Floriano, nos últimos dois anos, tem se refletido no atendimento prestado aos pacientes. O Hospital realizou em 2008, 173.085 atendimentos. Com 120 leitos, uma média de internação mensal de 980 pacientes, cerca de 3% atendimentos resultam em transferência para a capital, caindo para 0,48% quando se trata de urgência e emergência. Com a inauguração da Unidade de Terapia Semi-intensiva em agosto de 2007 e a chegada de 51 novos profissionais através de concursos públicos, Francisléia Moraes, diz que o Tibério Nunes deu um grande salto na sua capacidade resolutiva, apesar de ainda enfrentar alguns desafios, como a área de neurologia. Uma particularidade da região é a proximidade com o Estado vizinho do Maranhão que acaba refletindo no atendimento do Hospital. “Nós continuamos atendendo pacientes do Maranhão. No entanto, não temos o ressarcimento financeiro por isso”, explica a diretora. Em Parnaíba, também acontece a mesma coisa devido à área fronteiriça com os Estados do Ceará e Maranhão. O Tibério Nunes funciona como um hospital – escola, mantendo parceria com universidades públicas e faculdades privadas para estágios curriculares. Essa relação tem ajudado a melhorar o serviço prestado pelo Hospital através dos professores dos cursos de áreas afins que atuam como preceptores auxiliando os alunos na prática profissional. Somente em equipamentos para a UTI foram investidos através do convênio com o Ministério da Saúde R$ 459.309,56. Para o funcionamento da UTI serão chamados mais enfermeiros e técnicos de enfermagem já garantidos nos concursos realizados em 2005 e 2007. Em dezembro de 2008, a Secretaria da Saúde inaugurou a ampliação do serviço de urgência e emergência do Hospital Regional Chagas Rodrigues em Piripiri (180 Km de Teresina), que conta agora com 15 leitos. A sua área foi ampliada em 60 m² e o investimento foi de R$ 167.123,28. “A ampliação do espaço físico da unidade de urgência de emergência dá mais comodidade aos pacientes e melhores condições de trabalho aos profissionais que atuam na área”, disse o secretário de Saúde, Assis Carvalho. Além de Piripiri, que registra altos índices de acidentes de trânsito, a obra beneficia mais nove municípios vizinhos: Batalha, Brasileira, Capitão de Campos, Domingos Mourão, Milton Brandão, Pedro II, Piracurura, São João da Fronteira, São José do Divino. “Com melhor estrutura vamos poder atender melhor a demanda”, disse o diretor Renato Oliveira. A Secretaria da Saúde também está investindo R$ 530 mil para reformar o Hospital Regional Cândido Ferraz em São Raimundo Nonato (580 km de Teresina). A região também será beneficiada com uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), anunciada no final de 2008 pelo Ministério da Saúde vai investir R$ 6,4 milhões para a construção de quatro unidades no Piauí. As outras UPA´s serão construídas nos municípios de Parnaíba, Oeiras e Teresina. A medida visa a melhorar a gestão das urgências e emergências no estado. A proposta das UPAs é prestar atendimento emergencial de baixa e média complexidade 24 horas por dia aos portadores de quadro clínico agudo e atender às diversas demandas da população, especialmente à noite e aos fins de semana, quando a rede básica e o Programa Saúde da Família não funcionam. São Raimundo Nonato também será uma das cidades onde a Secretaria da Saúde vai implantar Centrais de Regulação. Para a construção da sede em São Raimundo Nonato foram investidos aproximadamente R$ 200 mil em equipamentos e obras. As centrais tem a função de intermediar as referências intermunicipais (consultas especializadas, exames, internações e cirurgias) a partir das regiões que atendem média e alta complexidades no estado. SAMU Um dos pré-requisitos para a implantação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) é o bom atendimento hospitalar, isso quer dizer que, no momento que o paciente chega na ambulância do resgate o hospital tem que estar preparado para dar continuidade ao atendimento. “O SAMU força a rede a se organizar”, diz a gerente de atenção às urgências e emergências da Secretaria da Saúde, Christianne Rocha. O Piauí já possui 19 unidades do SAMU, que somam 41 ambulâncias prestando atendimento de urgência nos municípios de Teresina, Piripiri, Água Branca, Campo Maior, Piracuruca e Barras, Floriano e Uruçuí, Picos, Oeiras, Paulistana, Simplício Mendes e Simões, Parnaíba, Cocal, Luís Correia e Buriti dos Lopes, São Raimundo Nonato e Canto do Buriti. Para reforçar o serviço de atendimento móvel, o Ministério da Saúde, lançou em 2008, as “motolâncias”, para dar mais agilidade ao atendimento em casos de acidentes, diminuindo o risco de seqüelas e complicações à saúde do paciente. “Estamos dando mais um passo na qualificação da política pública de saúde. As motolâncias compõem, no SAMU, um conjunto de tecnologias para melhorar a qualidade do atendimento. É mais um instrumento de aperfeiçoamento da Política Nacional de Atenção às Urgências”, disse o ministro José Gomes Temporão, durante a solenidade de entrega das primeiras 51 motocicletas, em Brasília. O Piauí vai receber seis unidades sendo que as cidades de Parnaíba, Picos, Floriano, São Raimundo Nonato recebem uma unidade cada e Teresina duas motos. HOSPITAIS ESTADUAIS 7,4 milhões de procedimentos ambulatoriais e internações realizadas no ano de 2008 HUMANIZAÇÃO Dento da UTI do hospital de Parnaíba foram dispostos nas paredes vários relógios para que os pacientes e profissionais possam acompanhar a passagem das horas. Uma medida simples, mas que mostra que além de resolutivo, o hospital também emprega medidas de humanização. Por Antonia Dias e Sana Moraes