O Centro de Hematologia e Hemoterapia do Piauí – Hemopi é o único banco de sangue do Estado, atendendo a toda a rede hospitalar, pública e privada. Ele é responsável pela captação, coleta e processamento de sangue, bem como atividades de assistência a pacientes portadores de coagulopatias e hemoglobinopatias. Um dos maiores desafios traçados para os próximos anos é a fidelização dos doadores, uma ação importante para a manutenção do estoque de sangue.
O sangue coletado tem validade de 30 dias, por isso, a necessidade de renovação constante do estoque. Nos últimos dois anos, as doações de sangue têm permanecido estáveis, numa média de 45 mil doações/ano. E a tendência é crescer. Mesmo em 2008, com a campanha nacional de vacinação contra Rubéola, que imunizou mais de 950 mil pessoas no Piauí, deixando essas pessoas impossibilitadas de doar por um mês, a média foi mantida.
Para conseguir números positivos, o Hemopi precisa de parceiros. E 2008 foi um ano onde muitas parcerias foram firmadas e fortalecidas. A rede solidária do hemocentro é formada, hoje, por 69 colaboradores entre faculdades públicas e privadas, associações e entidades de classe, empresas públicas e privadas, escolas públicas e particulares, órgãos do poder judiciário, Igrejas, entre outros. Destes 69 parceiros, 33 fizeram coletas internas e 36 externas na capital e interior. Desse total, sete realizaram duas coletas.
PLAQUETAS
Em dois anos, o Hemopi avançou muito na prestação de novos serviços. Um exemplo disso foi a implantação da coleta por aférese, que possibilitou o fornecimento ágil e seguro de plaquetas, um dos componentes do sangue usados principalmente em urgências. A coleta de plaquetas por aférese possibilita a assistência a pacientes, especialmente os oncológicos, portadores de coagulopatias, leucemia, dengue hemorrágica, entre outras patologias.
Com a aquisição do equipamento, uma única pessoa pode fornecer até duas unidades de plaquetas. Antes, com o método convencional (randômico) eram necessários seis doadores para preencher uma única unidade. “Essa tecnologia otimiza a utilização das plaquetas, diminui o número de procedimentos, barateando o serviço e dando mais segurança para o paciente que vai receber o componente”, explica a diretora do Hemopi, Neuma Café.
Em 2008, foram adquiridos 113 kits, sendo atendidas 95 coletas pelo novo método, para atendimento de 138 pacientes que, por indicação clínica, necessitaram de transfusão de plaquetas por aférese. Para isso foram investidos R$ 61.585,00 com verbas provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Com o crescimento da demanda de assistência aos pacientes que necessitam de transfusão sanguínea, a coleta por aférese pode atender 100% da demanda dos pacientes internados em hospitais de Teresina que necessitam de componentes específicos do sangue, como as plaquetas. “Como resultado, esperamos dar celeridade ao fornecimento de hemocomponentes, assim como aumentar a capacidade de doação por doador e a obtenção de plaquetas com qualidade de cinco a oito vezes maior do que aquelas extraídas na doação convencional”, esclarece a diretora.
LABORATÓRIOS GARANTEM NOVOS SERVIÇOS
O Hemopi também ganhou, em 2008, quatro novos laboratórios que auxiliam no diagnóstico de doenças do sangue. Para a instalação dos laboratórios de Biologia Molecular, Hemostasia, Eletroforese e Imunofluorescência foram investidos R$ 832.048,00. Os novos serviços vão possibilitar o acesso aos usuários do SUS a exames de alta complexidade, assim como o diagnóstico precoce e a possibilidade de intervenção mais rápida e eficaz em casos de doenças oncohematológicas. “Esses laboratórios e outros que ainda serão implantados, vão tornar o Hemopi não apenas um órgão responsável pela captação e coleta de sangue, mas um centro de referência em doenças hematológicas no serviço público”, diz Neuma Café. Ela explica ainda que a automatização dos laboratórios aumenta a qualidade e a segurança dos procedimentos realizados.
Outra ação importante foi o cadastro do ambulatório do Hemopi junto ao SUS para possibilitar o atendimento hematológico integral a 300 pacientes mensalmente. O Hemocentro aguarda agora o credenciamento do serviço junto a Fundação Municipal de Saúde de Teresina, já que a gestão do SUS em Teresina é plena. A partir de agora todos os pacientes atendidos pelo Programa Saúde da Família em qualquer município do Estado que apresente alguma indicação de patologia sanguínea poderá ser referenciado para tratamento no Hemopi.
Somente entre os anos de 2007 e 2008 foram realizados 11.281 consultas e 11.659 exames em pacientes com Hemofilia, Aplasia Medular, Doença de Von Willembrand, Anemia Falciforme, Talassemia e doadores com sorologia reativa.
Outro serviço que foi melhorado e ampliado no ano de 2008, foi o atendimento odontológico exclusivo para pacientes portadores de coagulopatias (hemofílicos) e hemoglobinopatias (anemia falciforme). A aquisição de dois gabinetes odontológicos no valor de R$ 52.996,00, sendo R$ 47.690,00 provenientes de convênio com o Ministério da Saúde e R$ 5.306,00 com verbas do Tesouro Estadual, o que propiciou as condições para o atendimento de 600 pacientes por mês.
Em 2007 foram feitos 1.412 atendimentos a 353 pacientes. Em 2008 esse número cresceu para 1.492 atendimentos a 373 pacientes. O Hemopi possui profissionais especializados nessa área prestando serviços de segunda a sexta.
O Ministério da Saúde, no interesse de prover o abastecimento de medicamentos hemoderivados e utilizar o plasma produzido em serviços de hemoterapia brasileiros com qualidade certificada, firmou com empresa estrangeira o Contrato Nº 77/2007, para beneficiamento do plasma brasileiro para a produção de hemoderivados. Todos esses investimentos em laboratórios especializados vão permitir que o Hemopi se adeque aos padrões internacionais, com isso vai poder fornecer plasma para a produção de fatores de coagulação. Em dois anos, foram feitas 9.337 aplicações de fatores de coagulação em 221 pacientes. Esses medicamentos são fornecidos pelo Ministério da Saúde a todos os hemocentros do país.
O Hemopi também investiu R$ 39.168,00 na implantação de exames de fenotipagem de doadores em microplacas e banco de doadores com fenótipos raros. A meta é a execução de 38 mil exames de fenotipagem para 2009.
MAIS PERTO DOS DOADORES
Visando ampliar e regionalizar o serviço de hematologia e hemoterapia, a sede do Hemopi em Parnaíba está sendo construída uma sede própria. O investimento será na ordem de R$ 325.914,58 - recursos do Tesouro Estadual. Esta iniciativa deve aumentar o número de doadores de mensais de sangue de 300 para 1.000, o que vai facilitar o atendimento da demanda de sangue para abastecer os hospitais da região.
Ainda dentro das ações de regionalização dos serviços de Saúde, estão previstos através de convênio com o Ministério da Saúde (861/06) o valor de R$ 893.369,30 para a construção do Hemocentro de Picos e a reforma do Hemocentro de Floriano. A previsão é de aumentar as doações de sangue nessas regiões para 1.000 por mês. O processo licitatório deve ser concluído em abril deste ano.
Estão sendo feitos investimentos também em 19 agências transfusionais como reformas na estrutura física, que vão possibilitar melhorar o acondicionamento do estoque, a qualidade das transfusões e a realização dos exames básicos exigidos. Mais quatro agências estão previstas para este ano nos municípios de São João do Piauí, Água Branca, Amarante e Guadalupe, cujos equipamentos já estão garantidos, faltando apenas as adequações físicas.
FORMAÇÃO E FIDELIZAÇÃO DE DOADORES
A doação voluntária de sangue como um ato espontâneo e habitual não faz parte da cultura da população brasileira que, no entanto, se mostra solidária em situações emergenciais ou quando vivencia a necessidade de transfusão a parentes ou amigos. Mas, os hemocentros brasileiros também enfrentam dificuldades em períodos como festas de fim de ano, férias e carnaval, que provocam uma retração nas doações de até 50%, comprometendo o atendimento da demanda hospitalar.
O Hemopi promove campanhas educativas de esclarecimento e também para estimular a doação de sangue espontânea e regular, viabilizando atendimento de solicitações transfusionais de todo o Estado. “Como precisamos promover mudanças nessa realidade, estamos investindo no potencial educacional formando cidadãos conscientes de seu papel, implementando diversos projetos que têm como finalidade a captação e a fidelização de novos doadores voluntários de sangue”, explica a coordenadora de educação e saúde do Hemopi, Veronésia Rosal.
O Piauí é o quinto estado brasileiro a lançar o Clube 25, em novembro de 2008, um programa mundial que incentiva jovens entre 18 e 25 anos a serem doadores fidelizados de sangue, além de estimular na juventude a doação de sangue habitual e transformá-los em multiplicadores de informações sobre a doação voluntária de sangue.
O ator Pedro Nercessian, padrinho nacional do programa, veio ao Piauí para promover o programa. “Eu me orgulho em dizer que não bebo, não fumo e não uso drogas. Não tenho vergonha nenhuma em assumir que levo uma vida saudável. Muita gente diz que eu me gabo disso. É isso aí, eu tiro onda mesmo. Não tenho vergonha de ser doador, tenho orgulho disso”, ressaltou.
Para participar do clube, o jovem deve ter passado por programa educacional oferecido pelo Hemocentro de sua cidade. A fidelização exige a assinatura de um termo de compromisso. Ao completar cinco, 10, 15 e 20 doações, o integrante do clube será homenageado. Com 25 doações, receberá medalha de honra ao mérito nacional.
A diretora do Hemopi, Neuma Café, explica que no Piauí, 200 jovens já assinaram o termo de adesão ao Clube 25 onde se comprometem em ter um estilo de vida saudável e a serem multiplicadores dos ideais do programa. “Destes, todos já doaram sangue pelo menos uma vez”, conta.
Uma das principais características do Clube 25 é a fidelização do doador. “Com a fidelização podemos ter um sangue de melhor qualidade, já que o doador estará regularmente sendo submetido aos exames de rotina o que aumenta consideravelmente a segurança transfusional”, explica a diretora do Hemopi.
A fidelização também é um dos principais desafios do Hemopi. “Temos um banco de dados muito bom, com mais de 200 mil doadores cadastrados. No entanto, o percentual de doadores cativos ainda não é satisfatório. Pactuamos com o Ministério da Saúde que o Hemopi deve aumentar a participação feminina e investir em ações para fidelizar os doadores”, diz Neuma.
A coordenadora do Programa de Captação de Doadores Voluntários do Ministério da Saúde, Vânia Melo, afirmou que vários programas vêm sendo desenvolvidos para a formação de novos doadores. “Com o programa Doador do Futuro, conseguimos atingir um público ainda muito jovem, que são os alunos do ensino fundamental. Com o Clube 25 vamos atingir uma outra parte da população jovem que são os estudantes de nível médio e os universitários”.
Durante todo o ano, a equipe do setor de captação de doadores leva a tema da doação de sangue e de medula óssea para dentro das escolas da rede de ensino municipal, estadual e particulares. Alunos de educação básica têm a oportunidade de assistir a palestras realizadas pelos profissionais do Hemopi. Professores e educadores dessas escolas também podem receber treinamentos sobre a importância da doação de sangue e de medula. Assim eles podem levar para a sala de aula o que aprenderam e se tornarem mais um grupo de multiplicadores.
Assim como o Clube 25, o Hemopi tem investido em ações de conscientização de vários outros segmentos da sociedade, como as mulheres, por exemplo. A presença feminina ainda é tímida e bastante reduzida nos hemocentros de todo o Brasil. Entretanto, sua participação é fundamental para a manutenção dos estoques de sangue para os serviços de urgência e emergência e no atendimento seguro de pacientes que necessitam de transfusão sanguínea. Do universo de doadores voluntários de sangue no Piauí, o percentual de doadores do sexo feminino ainda é muito baixo se comparado aos 30% estipulados pelo Ministério da Saúde a todos os hemocentros do país.
No Piauí, do universo de 544.542 mulheres na faixa etária entre 18 e 65 anos, estão cadastradas como doadoras 72.443 mulheres, o que corresponde a 13,30%. Para este ano de 2009, o Ministério da Saúde estabeleceu como meta para o Piauí um aumento de 5% no número de doadoras do sexo feminino.
Dentro do projeto de fidelização tem como objetivo mobilizar e sensibilizar a população do sexo feminino para participar ativamente como doadora de sangue, atuando como agente multiplicador nas campanhas de incentivo a doação voluntária de sangue no segmento.
AGENDAMENTO ONLINE
Outra novidade que o Hemopi implantou em 2008 foi o agendamento de doações, presenciais ou online. “O Hemopi oferece às pessoas a opção de doar sangue com hora marcada. Para agendar a doação presencial o doador comunica, por ocasião da doação, ou pelo telefone 0800 285 4989 sua próxima data de retorno. Para o agendamento online basta acessar o site www.hemopi.pi.gov.br e escolher data e horário da doação. Estas informações são confirmadas pelo hemocentro via endereço eletrônico.
TESTES SOROLÓGICOS
Entre os meses de janeiro e outubro de 2008 foram realizados 74.880 testes sorológicos, ou seja, os exames de rotina (hepatite, doenças transmissíveis, doença de chagas e outras) feitas com as amostras recolhidas no ato da doação. Foram gastos com a triagem sorológica de doadores R$ 2.971.214,35.
Por Sana Moraes