Piauí reduz 61,95% dos casos de dengue em 2008 com relação ao ano anterior, firma-se como o estado nordestino mais bem sucedido no combate à doença e inicia 2009 trabalhando para não dar trégua ao mosquito Com redução de 61,95% dos casos de dengue e nenhuma morte, o Piauí fechou 2008 como o estado do Nordeste que mais reduziu a doença no ano passado e virou referência para outros estados brasileiros. O modelo bem sucedido do trabalho motivou a Secretaria de Estado da Saúde a aperfeiçoar a receita que deu certo: parcerias dos órgãos estaduais, prefeituras e a população para limpeza pública e de quintais, trabalho educativo, monitoramento da infestação e da incidência da doença nos municípios, preparação da área hospitalar para atender a quem precisar. “O combate à dengue é permanente, não podemos relaxar. A parceria entre Estado e municípios é necessária para obtermos resultados cada vez mais positivos”, diz o secretário de Estado da Saúde, Assis Carvalho, que está comandando o trabalho nos municípios que apresentaram os maiores índices da doença ano passado. A dengue hemorrágica que, em 2007 matou 12 pessoas no Piauí, diminuiu 91,95% ano passado e não ceifou nenhuma vida. Este não era o prognóstico para 2008. O ano anterior havia contado 13.521 casos da doença, sendo 87 com complicações de febre hemorrágica da dengue. As enchentes deixaram vários municípios debaixo d’água no início de 2008 e o Levantamento de Índices Rápidos (LIRA) do Ministério da Saúde indicava a dengue como um problema nacional e colocava o Piauí como um dos 17 estados brasileiros na área de alto risco com potencial para surtos da doença. O alerta levou o governador Wellington Dias e o secretário Assis Carvalho a reunir, em abril do ano passado, todas as secretarias de governo, conselhos de classe, sindicatos, imprensa, poder judiciário, federações, polícia militar, corpo de bombeiros, exército, universidades, faculdades e igrejas, entre outros. Era lançada naquele momento a operação Brigada Mata Mosquito, um plano emergencial de combate á dengue, que contemplava duas áreas: a Prevenção da dengue e a Assistência às pessoas que adoecessem. Brigada Mata Mosquito Para prevenir a epidemia, equipes técnicas foram aos municípios para mobilizar parceiros e realizar eventos educativos nas escolas, lojas, hospitais, associações e outros espaços cedidos e incentivar a criação de comitês locais de combate à dengue (foram criados 140 comitês locais ou grupos de controle da dengue). Em seguida, entrava em ação o Mutirão da Limpeza, onde mais de 800 policiais militares, bombeiros, treinados para atuar nos trabalhos voltados contra a doença, agentes de endemias, técnicos da Saúde e voluntários visitavam as casas, orientando os moradores e destruindo focos do mosquito, enquanto outros trabalhadores, contratados nos municípios, faziam a limpeza dos terrenos baldios e o recolhimento do lixo das ruas e casas. A Operação Mata-Mosquito, com carros fumacê e bombas costais se juntava à estrutura que a cidade já dispunha para combater o mosquito adulto. A Equipe de Monitoramento detectava os casos e orientava as medidas de controle apropriadas, além de verificar os índices de infestação por Aedes aegypti, para subsidiar a execução das ações apropriadas de eliminação de criadouros de mosquitos. Uma outra equipe trabalhava no laboratório para diagnosticar a doença e analisar as larvas recolhidas nas casas visitadas. Para atender aos pacientes atingidos pelo mosquito, foi instalada uma Enfermaria Intermediária com 50 leitos, no Hospital da Polícia Militar, em Teresina, para atender aos pacientes que necessitarem de maior atenção, encaminhados pelos hospitais da rede municipal, que estavam aptos a diagnosticar e fazer reidratação oral. Os pacientes em estado grave seriam transferidos para o Hospital de Doenças Tropicais Natan Portella. A preocupação do Governo era visitar os municípios com maior incidência da doença e infestação do mosquito transmissor e também os locais vitimados pelas enchentes. “Esses municípios visitados são os que respondem com os maiores números de casos de dengue no Estado, portanto, o trabalho nesses municípios resultou em um impacto positivo quanto à redução dos casos notificados de dengue”, disse Ocimar de Alencar, coordenador de uma das equipes da Brigada. A missão da equipe era reduzir a menos de 1% a infestação predial em todos os municípios, diminuir em 50% o número de casos de dengue em relação a 2007 e em 25% nos anos subseqüentes e reduzir a letalidade por febre hemorrágica da dengue a menos de 1%. O melhor do Nordeste A Operação foi um sucesso. O Estado conseguiu reduzir em 61,95% o número de casos notificados de dengue. Após a passagem da Brigada, os municípios da região Sul do Estado apresentaram uma diminuição de 81,93% no número de casos e os da região Norte, 85,58%. Teresina reduziu as notificações em 92,85%. “O Piauí respeitou o protocolo do Mistério da Saúde, mas ampliou o envolvimento do Estado na ação efetiva contra a dengue, que teve como resultado os índices positivos de redução dos casos notificados da doença”, comemorou o secretário Assis Carvalho. “Para reduzir a dengue nos preocupamos com a limpeza das cidades, com a capacitação dos agentes de saúde e de endemias e fazemos um trabalho educativo permanente da população, conscientizando-a dos riscos e conseqüências da doença que o Aedes aegypti pode nos trazer”, detalha o superintendente estadual de Atenção Integral à Saúde, Albano Amorim. Os trabalhos da Brigada Mata Mosquito foram destaque nacional. “O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou que o trabalho realizado no Piauí vai servir de modelo para outros estados brasileiros. Ele me parabenizou porque o Piauí teve o melhor resultado no combate à dengue”, anunciou o governador Wellington Dias em solenidade que homenageou a equipe que trabalhou na Brigada. “A participação da população na campanha foi muito importante para que ações de manutenção da limpeza dos quintais fossem realizadas constantemente de forma a impedir o reaparecimento do mosquito”, explicou o major Emídio Oliveira, do Corpo de Bombeiros. Ação conjunta A ação foi realizada conjuntamente pela Secretaria de Saúde, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Empresa de Gestão de Recursos do Piauí (Emgerpi), prefeituras municipais, igrejas, escolas, lojas, supermercados, agentes de endemias, agentes comunitários de saúde, entre outros, que se destacaram durante toda a ação. “Estamos gratos com a colaboração de todos nessa luta contra a dengue. Nós já vínhamos trabalhando o combate ao mosquito desde cedo, mas a chegada da Brigada em Barras acrescentou para que os nossos casos reduzissem ainda mais”, disse o prefeito de Barras, Manin Rego. (a 119 km de Teresina). O mutirão esteve em 58 municípios, nos meses de abril a junho, totalizando 51 dias de trabalhos. Foram visitados 481.640 imóveis, sendo 249.322 na capital Teresina. "Durante a visita nós encontramos muitos criadouros do mosquito, e em todos os locais os focos foram destruídos", afirmou Gorete Ferreira, coordenadora geral da Operação. A participação da população foi essencial para o bom desempenho das atividades contra a dengue. “Uma ação de tamanha importância como a da Brigada só poderia ser feita com a participação da população em geral, e a aceitação foi excelente, as pessoas participaram, se empenharam e a prova disso são os resultados da ação. Nossa meta principal foi a educação em saúde, trabalhando casa a casa, orientando e mostrando à população os cuidados que devem ser tomados para evitar a proliferação do mosquito da dengue. As atividades foram realizadas nas residências, comércios, com a inspeção de toda área das cidades, inclusive terrenos baldios e cemitérios”, contou a enfermeira Ana Helena Vilarinho, que coordenou uma das rotas da operação. “Não podemos relaxar porque os ovos do mosquito da dengue continuam vivos por até um ano. Se a gente não combater a dengue todos os dias, esse problema vai continuar. Não deixar água acumulada é o jeito mais eficiente de combater a dengue”, alerta o coordenador estadual do programa de combate a dengue, Antônio Manoel. Durante a passagem dos mutirões nos municípios, muitas foram às denúncias de moradores sobre a existência de terrenos baldios abandonados. Por onde a Brigada andava, os populares pediam a visita do mutirão em suas casas. A comerciante Ana Arêa Leão, do município de Água Branca (a 98 km de Teresina), ficou satisfeita com o trabalho realizado, ela comentou sobre a Brigada e fez um apelo. “Eles cuidaram da minha casa, cuidaram da minha cidade e eliminaram muitos focos do mosquito. A população não pode parar, tem que continuar colaborando e limpando as suas casas para dar continuidade ao trabalho da brigada que foi tão bom. Não adianta eu limpar a minha casa, se o meu vizinho não limpa a dele também". Na luta contra a dengue, as crianças foram personagens, sem dúvidas, importantes para o sucesso dos trabalhos de combate a doença. Em Oeiras (a 313 km de Teresina), elas pararam suas atividades escolares para receber a “Brigada Mata Mosquito”. Os militares chamaram a atenção da comunidade local. “Eu sei que a polícia veio para não deixar o mosquito da dengue fazer a gente ficar doente. Ele é um mosquito muito ruim, deixa a gente com febre e muito doente”, disse a pequena Jainara Rufino, de apenas 6 anos. Aos 10 anos de idade, Milena Crisna já sabe muito bem os cuidados que deve ter para evitar a dengue em seu município. Quando questionada sobre os perigos que a doença representa para a população, ela mostra direitinho que já aprendeu a lição. “Eu aprendi na escola que a gente não deve deixar litros jogados na rua, nem pneus e tampinhas. Eu tenho medo por que muitas pessoas podem morrem por causa da dengue”, disse Milena que é do município de Lagoa Alegre (a 77 km de Teresina). Em Teresina, foram visitados cerca de 250 mil imóveis em 11 dias. A operação envolveu quase duas mil pessoas. O sub-tenente, Moreno, disse que a maior diferença para a redução dos casos de dengue está na consciência das pessoas. “Não basta uma região estar consciente dos perigos que a dengue pode trazer para uma pessoa, todo mundo precisa cooperar”. A dona de casa Maria da Paz, que mora no centro de Teresina, concorda com o sub-tenente e faz um alerta. “Todo mundo tem que ajudar. Não adianta o Governo fazer todo esse esforço se as pessoas não limpam as suas casas. Porque se eu limpo a minha casa pode até não ter dengue aqui, mas em outra casa vizinha pode ter um foco e a minha família pode adoecer do mesmo jeito”, afirmou. Baixa incidência em 2009 O resultado da ação do ano passado se reflete em 2009 que, até a 9ª semana epidemiológica (até 07 de março), notificou 244 casos suspeitos da doença. No mesmo período do ano passado, os números chegavam a 969 casos. E em 2007 eram 2.140. “O trabalho não pára, pois é necessário criar uma cultura cidadã de controle da dengue”, explica Albano Amorim. O mutirão da limpeza este ano já passou pelas cidades de Esperantina (na região norte), São Raimundo Nonato e Oeiras (sul do Estado) e está se preparando para percorrer os municípios que apresentaram maior incidência da doença ano passado mais uma vez repetindo o que dá certo: parceria entre governos, entidades civis e população. QUADRO 1 Parceria contra o mosquito Órgãos governamentais estaduais e federais Prefeituras e câmaras municipais ONGs (organizações não-governamentais) Igrejas Faculdades e escolas Estabelecimentos comerciais (lojas, supermercados, hotéis), que disponibilizaram carros de som e permitiram a veiculação de material educativo sobre a Dengue em seus sistemas de som internos. Bancos, que cederam espaços de extratos para impressão de mensagens educativas Associações de moradores e Clubes de serviço Sindicatos Veículos de comunicação QUADRO 2 58 municípios em 51 dias Esperantina, Morro do Chapéu, Joca Marques, Madeiro, Matias Olímpio, Luzilândia, Joaquim Pires, Caxingó, IIha Grande, Buriti dos Lopes, Luiz Correia, Parnaíba, Piracuruca, Cocal de Telha, Boqueirão, Piripiri, Milton Brandão, Pedro II, Campo Maior, Castelo, São Miguel do Tapuio, Barras, Batalha, José de Freitas, Lagoa Alegre, União, Demerval Lobão, Palmeirais, Teresina, Picos, Oeiras, Floriano, São João do Piauí, São Raimundo Nonato, Canto do Buriti, Landri Sales, Bertolínia, Eliseu Martins, Bom Jesus, Monte Alegre, Corrente, Cristalândia, Novo Oriente, Valença, Várzea Grande, Lagoinha, Água Branca, São Pedro, Olho D’água, Ipiranga, Itaueira, Francisco Macedo, Marcolândia, Simões, Patos, Curral Novo, Paulistana e São Francisco de Assis. QUADRO 3 Casa a casa Foram visitados 481.640 domicílios QUADRO 4 A operação envolveu mais de 5.000 pessoas, entre voluntários, trabalhadores temporários contratados para limpeza, policiais militares e bombeiros, oficiais do Exército, técnicos da Saúde, agentes de endemias. QUADRO 5 Órgãos governamentais diretamente envolvidos na Operação Secretaria de Saúde Polícia Militar Corpo de Bombeiros Emgerpi QUADRO 6 AÇÃO BRIGADA DE COMBATE À DENGUE EM TERESINA PERÍODOS Nº DE CASOS NOTIFICADOS DE DENGUE (%) REDUÇÃO 2008/2007 2007 2008 ANTES DA AÇÃO (01/01/08 a 18/05/08) 1.254 1.642 Aumento de 30,94 AÇÃO (19/05/08 a 29/05/08) 1.345 51 96,20 PÓS AÇÃO (30/05/08 a 31/12/08) 2.503 179 92,85 QUADRO 7 AÇÃO BRIGADA DE COMBATE À DENGUE NA REGIÃO NORTE PERÍODOS Nº DE CASOS NOTIFICADOS DE DENGUE (%) REDUÇÃO 2008/2007 2007 2008 ANTES DA AÇÃO (01/01 a 27/04/08) 1.726 998 42,18 AÇÃO (28/04 a 09/05/08) 361 127 64,82 PÓS AÇÃO (10/05 a 31/12/08) 1.893 273 85,58 QUADRO 8 AÇÃO BRIGADA DE COMBATE À DENGUE NA REGIÃO SUL PERÍODOS Nº DE CASOS NOTIFICADOS DE DENGUE (%) REDUÇÃO 2008/2007 2007 2008 ANTES DA AÇÃO (01/01 a 01/06/08) 1.505 925 38,54 AÇÃO (02/06 a 17/06/08) 181 55 69,61 PÓS AÇÃO (18/06 a 31/12/08) 476 86 81,93 QUADRO 9 AÇÃO BRIGADA DE COMBATE À DENGUE - ROTA NORTE, TERESINA E ROTA SUL. PERÍODOS Nº DE CASOS NOTIFICADOS DE DENGUE (%) REDUÇÃO 2008/2007 2007 2008 ANTES DA AÇÃO 4.485 3.565 20,51 AÇÃO 1.887 233 87,65 PÓS AÇÃO 4.872 538 88,96 QUADRO 10 CASOS NOTIFICADOS DE DENGUE E PIAUÍ E INCIDÊNCIA POR 100.000 HAB. NO PIAUÍ - DE 2005 A 2008. ANOS Nº CASOS NOTIFICADOS INCIDÊNCIA POR 100.000 HAB. 2005 7.769 253,43 2006 7.063 230,40 2007 13.521 441,07 2008 5.145 167,83 QUADRO 11 CASOS CONFIRMADOS DE DENGUE HEMORRÁGICA, ÓBITOS E TAXA DE LETALIDADE NO PIAUÍ DE 2005 A 2008. ANOS Nº DE CASOS CONFIRMADOS DE FHD Nº DE ÓBITOS TAXA DE LETALIDADE (%) 2005 12 01 8,33 2006 35 07 20,00 2007 87 12 13,79 2008 07 0 0,00 QUADRO 12 Capacitados para lidar com Dengue A Secretaria capacitou nos últimos dois anos, mais de dois mil trabalhadores da Saúde para atuarem nas ações de controle da dengue. Em 2007 foram treinados cerca de 990 profissionais de nível superior e em 2008 foram capacitados 1.046 trabalhadores de nível médio.