O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou nesta sexta-feira (3) novas recomendações a serem seguidas pelos profissionais de saúde e pela população em relação à Influenza A (H1N1). As mudanças têm como objetivo principal garantir atendimento ágil a pacientes com quadro grave nos hospitais de referência e evitar óbitos.
Com o crescimento do número de casos no Brasil, nas últimas semanas, alguns Estados já observam dificuldade de atendimento nesses hospitais devido à alta procura de pessoas com sintomas leves e, muitas vezes, com infecção por outros vírus. Esses casos, que não apresentem complicações, devem buscar um médico de confiança ou um posto de saúde, onde serão orientados, conforme já ocorre com aqueles que têm gripe comum. Os cerca de 68 hospitais de referência que a rede pública possui em todos os Estados do país estão preparados para atender e tratar casos graves.
O ministro voltou a lembrar que 99,6% das pessoas que contraem a nova gripe têm quadro leve e se recuperam rapidamente. A taxa de letalidade dessa doença hoje, no mundo, é de 0,4% — a mesma da gripe sazonal. Ele ressaltou que, até o momento, não há evidências de circulação do vírus no país, uma vez que todos os casos foram infectados no exterior ou de pessoas próximas a elas.
Outra mudança anunciada nesta sexta-feira é que, a partir de agora, só serão submetidas a exames laboratoriais para diagnóstico da H1N1 pessoas vulneráveis e casos graves. Também serão testadas amostras em casos de surtos localizados.
Antes da alteração do protocolo, todos os casos suspeitos eram testados em laboratório. Para se ter uma idéia, nesses dois meses desde o início da gripe, cerca de 70% a 75% das amostras coletadas em dois laboratórios de testagem para o vírus — o da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro e o Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo — têm resultado negativo para a nova gripe.
Confiram as novas recomendações:
- Ao sentir sintomas de gripe, deve-se procurar o serviço de saúde mais próximo, como já ocorre com o Influenza sazonal.
- Se os sintomas forem leves, o médico fará as recomendações necessárias para isolamento domiciliar, período de afastamento de trabalho e vai prescrever o tratamento dos sintomas. Nesses casos, não será necessário confirmação por exame laboratorial.
- Se o quadro clínico inspirar cuidados ou for grave, indicando necessidade de internação, o paciente será encaminhado para um dos 68 hospitais de referência.
- A confirmação por exame laboratorial se dará apenas em pessoas vulneráveis, casos graves ou em amostras (no caso de surtos localizados).
- Para promover o uso racional do antiviral e evitar possível resistência ao medicamento, ele será administrado somente aos pacientes com agravamento do estado de saúde nas primeiras 48 horas desde o início dos sintomas ou às pessoas que têm maior risco de apresentar quadro clínico grave, de acordo com avaliação médica. Alguns países, como a Dinamarca, Japão e Hong Kong já demonstraram resistência aos medicamentos. Isso é mais uma prova de que o uso desnecessário e a automedicação podem gerar resistência ao vírus.
- Todas as estratégias de vigilância realizadas nas fronteiras continuam e se mantém nos portos, estradas e aeroportos.
AUMENTO ESPERADO - Com o inverno no Hemisfério Sul, que prossegue até setembro, continuam as baixas temperaturas que favorecem a circulação dos diversos tipos de vírus Influenza, incluindo o H1N1. Ou seja, é esperado um aumento do número de casos da nova gripe, como já ocorre com a gripe comum.
“Uma coisa é uma avaliação teórica por meio da qual uma doença se dissemina. Outra é a avaliação prática de como o vírus age. O Ministério tem avaliado permanentemente esses cenários e trabalhado com todas as possibilidades de mudanças. Estamos nos antecipando constantemente”, analisou Temporão.
HISTÓRICO – No dia 24 de abril, a OMS emitiu um alerta sobre a ocorrência de nova gripe iniciada no México e transmitida de suínos para humanos. Nesse primeiro momento, o cenário mundial era de desconhecimento sobre o comportamento do vírus e percepção de que seria altamente agressivo. O desafio era o de retardar a entrada do vírus no país e preparar a rede de hospitais de referência para atendimento. Nos protocolos seguintes, a vigilância fez monitoramento de casos suspeitos e seus contatos, bem como os contatos dos casos confirmados. Recomendava-se internação e tratamento para todos os casos suspeitos e confirmados, sem recomendações de restrição a viagens.
Em um segundo momento, foram registrados os primeiros casos no Brasil, mas com transmissão limitada. Houve um avanço da doença, com a ampliação de países com transmissão sustentada. Entretanto, o vírus se mostrou menos agressivo e a letalidade começou a cair. O Ministério da Saúde priorizou conter a entrada e a disseminação do vírus no país e adequar a rede de assistência.
No dia 26 de junho, o Ministério da Saúde realizou alterações no protocolo: a internação passou a ser recomendada apenas para casos suspeitos ou confirmados que pertençam aos grupos de risco para agravamento da doença – os casos suspeitos, com sintomas, mas que não pertencem a grupo de risco devem ficar em isolamento domiciliar. Também foi mantida a recomendação de medicar todos os casos suspeitos e confirmados.
No terceiro momento, a OMS elevou o nível de alerta de 5 para 6 e declarou, com isso, pandemia mundial. Nesse cenário, o vírus já havia se espalhado por mais de cem países. Houve aumento no número de países com transmissão sustentada, inclusive na América Latina.
No Brasil, os casos cresceram expressivamente, embora não haja, até o momento, evidência de transmissão sustentada. A letalidade do vírus se demonstrou semelhante à de uma gripe comum. Os principais desafios passaram a ser: a contenção da transmissão do vírus no país; a adequação da rede de assistência para proteger casos mais graves e evitando que o vírus se torne resistente com o aumento de pessoas usando desnecessariamente o medicamento.
FONTE: AGÊNCIA SAÚDE