Até 12 de agosto, país registrou 0,09 mortes em cada grupo de 100 mil habitantes. Argentina, Uruguai e Costa Rica lideram a lista, seguidos de Chile e Austrália, segundo dados do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças
O número oficial de óbitos causados pela nova gripe notificado no mundo até esta quarta-feira (12/8) revela que o Brasil tem a 14ª taxa de mortalidade entre os 15 países com o maior número absoluto de mortes. Com 192 registros, o país apresenta uma taxa de 0,09 óbitos em cada grupo de 100 mil habitantes, maior apenas que a do Reino Unido – 40 mortes e índice de 0,06 por 100 mil.
Países vizinhos, Argentina (0,83) e Uruguai (0,65) têm as maiores taxas, seguidos de Costa Rica (0,61), Chile (0,57) e Austrália (0,46). Em todo o mundo, foram notificados, até esta data, 1.882 óbitos em 48 países. As informações são do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças.
A taxa de mortalidade (número de óbitos relativos à população) passou a ser utilizada no lugar da taxa de letalidade (número de mortes em comparação ao total de casos de determinada doença) para monitorar a gravidade da nova gripe. A mudança na metodologia aconteceu porque, em 16 de julho, por meio de comunicado oficial aos países-membros, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu que não era mais possível contabilizar todos os casos da nova gripe, tornando inviável calcular a taxa de letalidade.
NOVA ESTRATÉGIA – Dois motivos principais levaram a OMS a mudar de estratégia. O primeiro foi a semelhança observada entre a nova doença e a gripe comum. E o segundo, com base na experiência de outras pandemias, foi a constatação de que a contagem de casos individuais não é mais essencial nesses países para monitoramento, seja pelo nível ou natureza do risco representado pelo vírus pandêmico, seja para orientar medidas de resposta mais apropriadas. Como consequência, os exames laboratoriais de biologia molecular, única forma de diagnosticar o novo vírus, deixaram de ser indicados para todos os casos com sintomas de gripe.
“É importante ficar claro que essa prática não é exclusiva do Brasil, vem sendo adotada por vários países. Vamos continuar a registrar o número de casos, mas apenas em pacientes graves, no caso de óbitos e para confirmar surtos em comunidades fechadas, como escolas, creches e empresas”, diz o diretor de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Eduardo Hage.
Nesta fase da doença, com mais de 180 países afetados, muitos deles com livre circulação do vírus, o objetivo não é mais saber se todos os que têm gripe foram infectados por vírus da influenza sazonal ou pelo novo vírus, diz Eduardo Hage. “Para o paciente com sintoma leve, não faz diferença saber se tem a nova gripe ou a sazonal. Faz, sim, diferença para os casos graves ou as pessoas com fatores de risco, justamente os casos previstos no protocolo para indicação de exame laboratorial”.
Fatores e grupos de risco com indicação para tratamento e exame laboratorial
- Grávidas
- Crianças menores de 2 anos e idosos com mais de 60 anos
- Pessoas com doenças que debilitam o sistema imunológico (defesas do organismo), como câncer e aids, ou que tomam regularmente medicamentos que debilitam o sistema imunológico
- Pessoas com doenças crônicas preexistentes, como problemas cardíacos (como arritmias), pulmonares (exemplos: bronquite e asma), renais (pessoas que fazem hemodiálise, por exemplo) e sanguíneos (como anemia e hemofilia)
- Diabetes, hipertensão e obesidade mórbida.
ENTREVISTA – Eduardo Hage
AGÊNCIA SAÚDE – Se todos os casos da nova gripe não são mais contados, como o Ministério da Saúde monitora a circulação do novo vírus no país?
EDUARDO HAGE – Esse trabalho não é novo. Vem sendo feito desde 2000, por meio de uma rede sentinela que tem 62 unidades em todo o país, pelo menos uma por unidade da federação. É essa rede que acompanha a circulação dos vários tipos de vírus influenza no Brasil e também a ocorrência de surtos. A rede permite que as autoridades sanitárias monitorem a ocorrência de surtos devido ao vírus da gripe comum, e, agora, do novo vírus, por meio da coleta sistemática de amostras de secreção nasal e envio aos três laboratórios de referência para influenza, a Fundação Oswaldo Cruz (RJ), o Instituto Adolf Lutz (SP) e o Instituto Evandro Chagas (PA).
AS – Não se usa mais a taxa de letalidade?
EH – Sim, mas apenas para os casos graves. Esses, sim, são possíveis de contabilizar, porque o Brasil tem um critério claro de classificação. Consideramos caso grave todos os pacientes com agravamento súbito do estado de saúde e com febre, tosse e dificuldade respiratória, mesmo que moderada. Isso nos permite acompanhar os casos graves da doença, que felizmente são a menor parte. Na grande maioria dos casos, os pacientes se recuperam com facilidade. Tem sido assim em todo o mundo.
AS – E nos casos graves, como está o Brasil em relação a outros países?
EH – Não é possível fazer essa comparação porque não existe um protocolo único, da OMS, definindo o que é caso grave e recomendado para todos os países. Ou seja, cada país adota um critério. Então, não existe uma base segura e confiável para comparar.
AS – O Brasil é o terceiro país com o maior número de registros, atrás de Argentina (338) e Estados Unidos (436). Isso preocupa o governo?
EH – Claro que sim. O governo lamenta cada morte, mas lembra à população que não há motivo para pânico. A doença, repito, na grande maioria dos casos, apresenta sintomas leves. Portanto, ao sentirem qualquer sintoma de gripe, as pessoas devem procurar imediatamente o médico de confiança, não os hospitais, que além de não serem o melhor lugar para tratar gripe, devem estar livres para atender aos casos graves. E a rede de saúde do país está preparada para isto: são 1.978 leitos de UTI, em 68 hospitais de referência.
Fonte: Agência Saúde