Nova avaliação nacional das informações sobre infestação por larvas do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, revela que Paranaíba e Teresina, no Piauí, estão em situação satisfatória. Menos de 1% dos imóveis pesquisados nesses municípios apresentaram larvas do mosquito, que significa baixo nível de infestação. Nenhuma cidade apresentou risco de surto, que se daria com índice acima de 4%. Os dados são do Levantamento de Índice Rápido de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa) 2009, realizado entre outubro e novembro, em 163 cidades de todas as regiões. Dessas, 157 enviaram informações até o momento e 102 estão em alerta.
O LIRAa permite identificar onde estão concentrados os focos do mosquito em cada cidade. Para o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, os dados indicam a necessidade de reforço na mobilização nacional para o controle da dengue. “Não podemos baixar guarda. Precisamos — governos, profissionais de saúde e sociedade — reforçar as medidas de prevenção e assistência para que tenhamos nova redução de casos em 2010”, afirmou.
Na região Nordeste, dos 48 municípios que realizaram o LIRAa, quatro estão em situação de risco de surto; 28 em alerta; e 14 em condições satisfatórias. Duas cidades do Nordeste não enviaram seus dados.
Dados do Ministério da Saúde mostram que o número de casos de dengue notificados em todo o país caiu 46,3% entre 1º de janeiro e 1º de agosto deste ano, ante o mesmo período de 2008. Houve também queda proporcional no número de casos graves (79,2%) e de mortes causadas pela doença (63,2%). A redução ocorreu em 20 estados e no Distrito Federal.
EM ALERTA – O LIRAa conclui que cresceu o número de municípios em estado de alerta e com risco de surto, em comparação com os dados do ano passado. Em 2008, cinco municípios estavam com risco de surto e 71 em situação de alerta. O número de municípios com índices satisfatórios caiu de 83 para 42.
Diversos fatores podem ter contribuído para o aumento dos índices de infestação nas cidades pesquisadas, entre os quais a antecipação das chuvas com índices pluviométricos acima do normal em algumas regiões e as altas temperaturas. Porém, até o momento, não é possível correlacionar o aumento somente a estas variáveis climáticas.
Dos dez municípios com risco de surto no novo levantamento, quatro estão no Nordeste – Camaçari, Ilhéus e Itabuna (BA) e Mossoró (RN); e outros quatro no Sudeste – Governador Valadares e Ipatinga (MG) e Barretos e Presidente Prudente (SP). Palmas (TO), na região Norte, e Cáceres (MT), no Centro Oeste, completam a lista. Três destas cidades já estavam em situação de risco de surto em 2008 (Camaçari, Itabuna e Mossoró).
Entre os 102 municípios em alerta, 17 são capitais (veja quadro no fim do texto). Todas essas cidades merecem total atenção, pois qualquer descontinuidade nas ações de controle pode alterar o quadro para situação de risco. Os resultados dos municípios que realizaram o levantamento estão disponíveis em www.saude.gov.br e www.combatadengue.com.br.
O Ministério da Saúde recomenda fortemente que as prefeituras, estados e os meios de comunicação dêem ampla publicidade aos resultados do LIRAa, como forma de alerta para o reforço da mobilização no combate aos criadouros do mosquito. Temporão ressalta a necessidade de envolvimento de todo o País no combate à dengue. “O trabalho de acabar com os criadouros do mosquito é uma responsabilidade tanto do poder público como de cada cidadão ou empresa. Além disso, o sistema público de saúde deve estar comprometido com o reforço na assistência à saúde dos pacientes, para tratar bem os eventuais casos graves e evitar mortes”.
RESULTADOS REGIONAIS – A região Norte apresentou melhora nos resultados de infestação por larvas do mosquito Aedes aegypti. Entre 2008 e 2009, cresceu o índice de municípios em situação satisfatória e diminuiu o percentual dos que estão em estado de alerta nesta região.
Em relação ao ano passado, as regiões Nordeste e Sudeste têm mais municípios em alerta e com risco de surto. Centro-Oeste e Sul apresentam menos municípios com índice satisfatório e mais em alerta.
CRIADOUROS – De acordo com o LIRAa 2009, a maioria das larvas no Norte e Nordeste foi encontrada em caixas d’água, tambores, tonéis e poços de água. No Norte, também chama atenção o índice de larvas presentes em lixo. No Sudeste, 49% dos criadouros são depósitos domiciliares, como vasos, pratos, ralos e piscinas sem uso. Na região Centro-Oeste, predomina o lixo como criadouro das larvas do Aedes aegypti.
% de Criadouros predominantes
Região Norte
Abastecimento de água (caixas dágua, tambores, tonéis, poços, etc.) - 35,7%
Depósitos domiciliares (vasos, pratos, bromélias, ralos, lajes, piscina etc.) - 29,8%
Lixo (resíduos sólidos) - 34,6%
Região Nordeste
Abastecimento de água (caixas dágua, tambores, tonéis, poços, etc.) - 63,9%
Depósitos domiciliares (vasos, pratos, bromélias, ralos, lajes, piscina etc.) - 24,9%
Lixo (resíduos sólidos) - 11,2%
Região Sudeste
Abastecimento de água (caixas dágua, tambores, tonéis, poços, etc.) - 16,6%
Depósitos domiciliares (vasos, pratos, bromélias, ralos, lajes, piscina etc.) - 49,0%
Lixo (resíduos sólidos) - 34,4%
Região Centro Oeste
Abastecimento de água (caixas dágua, tambores, tonéis, poços, etc.) - 21,8%
Depósitos domiciliares (vasos, pratos, bromélias, ralos, lajes, piscina etc.) – 33,7%
Lixo (resíduos sólidos) -44,6%
METODOLOGIA – Implantado em 2004, o LIRAa é uma metodologia utilizada para identificar os criadouros predominantes e a situação de infestação dos municípios. Participam capitais e cidades de regiões metropolitanas; municípios com mais de 100 mil habitantes, de fronteira ou com grande fluxo de turistas. O município é dividido em grupos (ou estratos) de 9 mil a 12 mil imóveis com características semelhantes. Em cada grupo, os agentes de saúde visitam cerca de 450 casas, lotes baldios, estabelecimentos comerciais e prédios públicos.
Os estratos em que menos de 1% dos imóveis apresentam infestação por larvas do Aedes aegypti são considerados em condições satisfatórias. Os grupos com índice de infestação predial de 1% a 3,9% estão em situação de alerta; e com índice superior a 4% apresentam risco de surto de dengue.
A responsabilidade de aplicar a metodologia é dos próprios municípios. Embora o levantamento não seja obrigatório, o Ministério da Saúde recomenda sua realização, pois ele permite o direcionamento oportuno das ações de controle para as áreas mais críticas, no período que antecede os meses de janeiro a maio, quando ocorrem 70% dos casos de dengue.
Nesse período, devido às altas temperaturas, o ciclo do Aedes, que em climas amenos demora 30 dias para se desenvolver da larva ao mosquito adulto, pode ser reduzido para 12 dias. Isso aumenta a população do vetor e pode, consequentemente, ampliar o número de casos da doença.
AÇÕES CONTRA A DENGUE – Em julho, o Ministério da Saúde lançou as Diretrizes Nacionais para Prevenção e Controle de Epidemias de Dengue. O documento inédito, elaborado em parceria com estados e municípios, serve de guia para o direcionamento de ações de controle vetorial e de mobilização para os municípios com risco de epidemia indicados pelo LIRAa.
O Ministério está de prontidão para oferecer assessoria técnica às Secretarias Estaduais de Saúde na implementação das Diretrizes Nacionais e na adequação dos planos de contingência. Em novembro, técnicos do Ministério da Saúde visitaram sete estados (PA, MA, PB, RO, SC, RR, PI). Outros sete estados serão visitados em dezembro. O Ministério enviou CD com informações sobre a doença e o material das Diretrizes Nacionais para 600 mil médicos e enfermeiros em todo o país. Também houve a distribuição de kit com as Diretrizes Nacionais para 652 municípios prioritários e 1,3 mil operadoras de planos de saúde.
O Ministério da Saúde já comunicou os resultados do LIRAa aos estados com municípios em alerta e com risco de surto para que eles intensifiquem as ações de prevenção e assistência à saúde.
CAPACITAÇÃO – Em novembro, 21 estados e nove capitais onde há unidades do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS) receberam treinamento para estruturação de unidades de monitoramento de dengue. A Rede CIEVS possibilita a integração das ações de combate ao mosquito, assistência ao paciente e comunicação. Os estados com unidades implantadas são: AC, AL, AM, BA, CE, DF, ES, MA, MT, MS, MG, PA, PB, PE, PR, RN, RR, RS, SC, SP e TO. As capitais são Boa Vista, Florianópolis, Fortaleza, Manaus, Natal, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória.
Em outubro, o Ministério também promoveu a preparação da resposta coordenada no monitoramento da dengue para o DF e 15 estados: AM, SC, PR, MG, MS, ES, PB, AL, MA, BA, RN, RS, SP, MT e CE. Em setembro de 2009, o Ministério promoveu o 6º Curso Internacional de Gestão Integrada, Prevenção e Controle da Dengue, em Belo Horizonte. Participaram 34 chefes de programas de controle da dengue de 15 estados e 9 países (Paraguai, El Salvador, Bolívia, Panamá, Chile, Cuba, Nicarágua e Costa Rica).
ESTOQUE - O Ministério tem estoque estratégico de medicamentos, inseticidas e equipamentos para combater a doença no Brasil. São 2,77 milhões de unidades de paracetamol (gotas e comprimidos), 2,03 milhões de frascos de soro fisiológico injetável e 562,7 mil envelopes de sais de reidratação oral que serão utilizados em situações epidêmicas.
Outros 250 mil litros de inseticidas e 3,5 toneladas de larvicidas serão distribuídos ao longo das ações de controle vetorial. Também há 6,5 mil kits de diagnósticos, suficientes para a realização de 170 mil exames. Estados e municípios possuem reserva estratégica de 77 nebulizadores costais motorizados e 142 equipamentos de fumacê. Além disso, até outubro deste ano, foram distribuídos aos estados e municípios 150 nebulizadores e 90 veículos utilitários (Kombi).
Por meio de parceria firmada no ano passado, as Forças Armadas mantêm à disposição contingente militar para atuar como agentes de combate ao mosquito e de forma complementar na assistência aos pacientes nas áreas de risco. Ao todo, 1.490 militares receberam treinamento do Ministério da Saúde desde o ano passado. Desses, 910 atuaram nos municípios em 2008/2009.
CAMPANHA – Em outubro, o Ministério da Saúde lançou a Campanha Nacional de Combate à Dengue 2009/2010. Com o mote “Brasil Unido contra a Dengue”, a iniciativa dá continuidade às ações de prevenção e enfrentamento da doença realizadas no país, desde o ano passado, e alerta a população para a importância de evitar que o número de casos volte a aumentar.
Dentro da campanha, o ministro José Gomes Temporão percorreu, em novembro, sete estados (PE, BA, CE, AM, MT, MS e RJ) para mobilizar gestores e profissionais de saúde, além de veículos de comunicação no combate à dengue. Em dezembro, está prevista a visita a Minas Gerais e Espírito Santo. Outras ações dentro da campanha são a mobilização de 110 mil líderes comunitários, por telefone e de porta em porta, e a parceria com 200 empresas públicas e privadas para o combate à doença.
PRÓXIMOS PASSOS – Em 7 de dezembro, haverá nova reunião do Grupo Executivo Interministerial – formado por oito ministérios, além da Casa Civil e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República - para implementar ações intersetoriais no combate ao mosquito e na assistência ao paciente.
O Ministério da Saúde também reforçará as ações de comunicação. Haverá mensagens de rádio e TV nas praças priorizadas pelo LIRAa; informações em outdoors e mobiliário urbano; utilização de portais e sites regionais; e ações de telemarketing direcionadas para bairros priorizados no LIRAa.
VACINA - Em agosto, o Ministério da Saúde anunciou acordo de R$ 187,3 milhões com o laboratório britânico GSK para iniciar a pesquisa e o desenvolvimento de vacinas contra dengue, febre amarela e malária. Os recursos serão aplicados na criação de um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, na Fiocruz/RJ. Na primeira etapa, a prioridade será a vacina contra a dengue. Mas não há previsão de que ela esteja disponível, pelo menos, nos próximos cinco anos.
MUNICÍPIOS EM RISCO DE SURTO DE DENGUE EM 2009
4 no Nordeste: Camaçari, Ilhéus e Itabuna (BA); Mossoró R(N).
4 no Sudeste: Governador Valadares e Ipatinga (MG); Barretos e Presidente Prudente (SP).
1 no Norte: Palmas (TO).
1 no Centro-Oeste: Cáceres (MT).
DOS 102 MUNICÍPIOS EM SITUAÇÃO DE ALERTA, 17 SÃO CAPITAIS:
Rio Branco - AC
Rio de Janeiro - RJ
Porto Velho - RO
Salvador - BA
Goiânia - GO
Belo Horizonte - MG
Belém - PA
Maceió - AL
Brasília - DF
Recife - PE
Vitória - ES
Aracaju - SE
Manaus - AM
São Luiz - MA
Boa Vista - RR
Fortaleza - CE
Natal - RN
Fonte: Agência Saúde (editada)