Segundo o Ministério da Saúde, pesquisas revelam que 96% das pessoas sabem quais os sintomas da doença e o que fazer para eliminar criadouros do Aedes aegypti dentro de suas casas. “Mas a mudança de comportamento ainda é um desafio. Nessa lógica, ganham força duas mensagens fundamentais: que os governos e os cidadãos devem fazer, juntos, a sua parte e que a eliminação de criadouros deve ser algo rotineiro”, disse o ministro José Gomes Temporão, que esteve no Piauí hoje, 17, mobilizando gestores, sociedade, profissionais de saúde e veículos de comunicação para o combate à doença. O ministro está visitando os 10 estados com maior risco de enfrentar epidemia de dengue em 2011 (Sergipe, Piauí, Ceará, Bahia, Pernambuco, Amazonas, Amapá, Maranhão, Paraíba e Rio de Janeiro).
O ministro foi recebido na sede do Governo pela deputada Lilian Martins, primeira dama do Estado, que representou o governador Wilson Martins. O secretário de Saúde, Telmo Mesquita, acompanhou o ministro em Teresina.
RISCO DENGUE
O Levantamento de Índice Rápido de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa) 2010 – que permite identificar onde estão concentrados os focos do mosquito em cada município – teve o resultado parcial apresentado neste mês de novembro pelo Ministério da Saúde. No Piauí foram pesquisados dois municípios, Teresina e Parnaíba, ambos em situação considerada satisfatória. Em Parnaíba, o Índice de Infestação Predial (IIP) foi de 0,2 em 2009 e 0,1 este ano. Na capital do Estado, o IIP foi de 0,1 ano passado e 0,2 este ano.
Entretanto, o Piauí é considerado área de risco da dengue pela combinação de outros critérios. São cinco os itens que determinam o Risco Dengue: incidência de casos nos anos anteriores, índices de infestação pelo mosquito transmissor, tipos de vírus da dengue em circulação, densidade populacional e cobertura de abastecimento de água e coleta de lixo.
Segundo o Ministério, o Risco Dengue reforça o caráter intersetorial do controle da dengue e permite aos gestores locais de Saúde intensificar e antecipar as diversas ações de prevenção nas áreas de maior risco
CAMPANHA
O Ministério da Saúde está fazendo uma campanha nacional de combate à dengue que, segundo o Ministério, traz um novo olhar sobre a forma de lidar com a doença, com a qual o Brasil convive há 24 anos. Uma mensagem mais direta à população sobre a gravidade da dengue e sobre a necessidade de que cada pessoa elimine criadouros do mosquito em sua casa direciona as peças publicitárias impressas, na TV e no rádio.
A renovação de conceito e de estratégia partiu de uma pesquisa de opinião que revelou uma resistência das pessoas em mudar seu comportamento, embora 96% saibam quais os sintomas da dengue e como fazer para combater o mosquito transmissor. A mensagem de 2009, “Brasil unido contra a dengue”, foi substituída por outra, que reforça a responsabilidade do cidadão: “Dengue: se você agir, podemos evitar”.
“Cada vez mais, precisamos difundir a idéia de que dengue não é um problema só da saúde e nem só dos governos. Se a comunidade não se envolver, e se não houver a articulação com outros setores, continuaremos enfrentando aumento de casos e de mortes por dengue no Brasil”, afirma o ministro José Gomes Temporão.
As peças de TV e rádio terão depoimentos de pessoas que enfrentaram a doença e quase perderam familiares, além de declarações de líderes comunitários sobre a importância de cobrar também a ação dos gestores da saúde e de outros setores, como meio ambiente, saneamento básico e limpeza urbana. A campanha terá, ainda, materiais específicos para educadores, crianças e gestores e profissionais de saúde.
CENÁRIO 2009/2010
Em 2010, até 16 de outubro, foram notificados 936.260 casos de dengue clássica no país, dos quais 14.342 foram classificados como graves. O número de mortes foi de 592. No mesmo período de 2009, foram 480.919 notificações, com 8.714 casos graves e 312 óbitos.
A recirculação do sorotipo DENV-1, que havia predominado no país no final da década de 90, está entre os fatores que contribuíram para o aumento de casos em 2010. Em quase todos os estados, havia um grande contingente populacional sem imunidade a este sorotipo. Isto, aliado aos altos índices de infestação revelados pelo LIRAa 2009, representou um cenário favorável à transmissão da dengue em grande escala no Brasil, neste ano.
Além disso, conforme aponta o Risco Dengue, a manutenção de condições precárias de saneamento básico e a irregularidade da coleta de lixo em muitos municípios brasileiros impedem a redução dos índices de infestação pelo mosquito Aedes aegypti. “A falta de abastecimento de água obriga as pessoas a armazenarem em caixas d’água, tonéis, latões sem a devida proteção. O lixo acumulado também abastece o ambiente, de forma permanente, com vários criadouros ideais para a fêmea do mosquito colocar seus ovos”, explica o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue, Giovanini Coelho.
PIAUÍ
Neste momento, não há surtos da doença no Piauí. No levantamento feito pela Secretaria da Saúde (até a 42ª semana epidemiológica), já foram notificados 7.719 casos em 161 municípios, o que equivale a um aumento de 35,2% com relação ao mesmo período do ano passado, quando 5.709 casos foram notificados. Estão confirmados 15 casos de dengue hemorrágica e três óbitos. No ano passado foram sete casos de dengue hemorrágica com dois óbitos no mesmo período.
O Piauí hoje tem 43 municípios com alta incidência (maior ou igual a 300 casos por 100 mil habitantes): Angical do Piauí, Anísio de Abreu, Antônio Almeida, Arraial, Bonfim do Piauí, Cajazeiras do Piauí, Campo Grande do Piauí, Campo Maior, Caracol, Dirceu Arcoverde, Dom Expedito Lopes, Eliseu Martins, Fartura do Piauí, Floriano, Francisco Ayres, Guadalupe, Guaribas, Inhuma, Ipiranga do Piauí, Lagoa do Sítio, Landri Sales, Marcos Parente, Novo Oriente do Piauí, Oeiras, Paes Landim, Picos, Pio IX, Regeneração, Rio Grande do Piauí, Santa Cruz dos Milagres, Santa Rosa do Piauí, Santo Antonio dos Milagres, São Félix do Piauí, São Francisco do Piauí, São João da Canabrava, São João da Varjota, São José do Peixe, São José do Piauí, São Raimundo Nonato, Sebastião Leal, Teresina, Valença do Piauí, Várzea Branca.
Segundo o relatório Indicadores de Saúde do Piauí, a taxa de incidência da dengue no período de 2002 a 2009 tem apresentado resultado oscilante no Estado. Em 2002, a taxa foi de 396,97 contra 185,81 por 100 mil habitantes em 2009. O ano de 2007 apresentou a maior taxa de incidência (441,01/100 mil hab) registrando um decréscimo significativo no ano seguinte para 166,39, “fato relacionado ao desenvolvimento de uma grande ação realizada pelo Estado, constituída de três aspectos fundamentais: educação em saúde, remoção de criadouros do mosquito da dengue e mobilização social”. A operação denominada Brigada Mata Mosquito percorreu 58 municípios com técnicos em saúde, agentes de endemias, policiais militares, reduzindo 61,95% dos casos de dengue em 2008 com relação ao ano anterior.
ATENDIMENTO DE URGÊNCIA
O ministro Temporão falou à imprensa sobre as condições de funcionamento do Hospital de Urgência de Teresina. Segundo o ministro, o Hospital Getúlio Vargas (HGV) está passando por uma ampla reforma, sendo preparado para a retaguarda em alta complexidade da urgência. E o Hospital Universitário (HU) previsto para ser inaugurado em 2011 também contribuirá para melhorar o atendimento.
O ministro falou também que a Saúde necessita de mais recursos e que o financiamento da área deve ser definido logo pelo Congresso Nacional.