A Secretaria de Estado da Saúde divulgou, nesta segunda-feira (28), o número final de casos de Hanseníase no ano de 2012 no Piauí. Foram 968 novos casos da doença no estado. Se comparado a 2011, houve uma leve queda, já que naquele ano foram registrados 1.153. Ontem, 27 de janeiro, foi celebrado o Dia Mundial de Luta Contra a Hanseníase.

De acordo com Karina Amorim, coordenadora de Doenças Transmissíveis da Sesapi, o coeficiente de detecção geral da doença caiu de 36 para 30 casos por 100 mil habitantes. “Mesmo com a queda, o Piauí ocupa o sexto lugar em número de casos novos de hanseníase no Brasil e ocupa o segundo lugar em números de casos da região nordeste”, afirma Karina.

“Por isso, estamos convidando todos os municípios do Estado do Piauí a construírem suas programações de atividades locais acerca da mobilização em alusão ao Dia Mundial de Luta Contra a Hanseníase, e enviar suas propostas através do telefone/fax (086) 3216- 8081/3663 ou e-mail hanseniase@saude.pi.gov.br”, alerta a coordenadora.

Em 2011, de acordo com Karina Amorim, o percentual de cura chegou a 81,49% contra 76,8% de 2012. “O Ministério da Saúde do Brasil retomou desde 2011 o Plano de Eliminação da Hanseníase como problema de saúde pública, ou seja, alcançar menos de um caso para cada grupo de 10.000 habitantes até 2015”, explica.

O Brasil ocupa a segunda posição em número de casos novos de hanseníase, com 33.955 e a Índia a primeira posição com 126.800 casos novos. Em 2012, dados preliminares mostram 28.801 casos novos detectados, ou seja, coeficiente de detecção geral de 14,85 casos novos por 100 mil habitantes.

A doença

A hanseníase é uma das mais antigas doenças que acomete o homem. É causada pelo Mycobacterium leprae, bacilo descoberto em 1873 pelo médico Amaneur Hansen, na Noruega. Em homenagem ao seu descobridor, o bacilo é também chamado de Bacilo de Hansen. O bacilo de Hansen é um micróbio que apresenta afinidade pela pele e nervos periféricos.

A hanseníase é uma doença infecciosa, crônica, de grande importância para a saúde pública devido à sua magnitude e seu alto poder incapacitante, atingindo principalmente as pessoas em faixa etária economicamente ativa comprometendo seu desenvolvimento profissional e/ou social. O alto potencial incapacitante da hanseníase está diretamente relacionado à capacidade do bacilo penetrar a célula nervosa e também ao seu poder imunogênico.

Atualmente a hanseníase tem tratamento e cura.

1. Qual a classificação da hanseniase?

A hanseníase, para fins de tratamento, pode ser classificada em:
• Paucibacilar – poucos bacilos -: até 5 lesões de pele
. Multibacilar – muitos bacilos -: mais de 5 lesões de pele.

2. Quais os sinais e sintomas?

• Manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas em qualquer parte do corpo com perda ou alteração de sensibilidade;
• Área de pele seca e com falta de suor;
• Área da pele com queda de pêlos, especialmente nas sobrancelhas;
• Área da pele com perda ou ausência de sensibilidade ao calor, dor e tato. A pessoa se queima ou machuca sem perceber;
• Sensação de formigamento (Parestesias);
• Dor e sensação de choque, fisgadas e agulhadas ao longo dos nervos dos braços e das pernas, inchaço de mãos e pés;
• Diminuição da força dos músculos das mãos, pés e face devido à inflamação de nervos, que nesses casos podem estar engrossados e doloridos.
• Úlceras de pernas e pés.
• Caroços (nódulos) no corpo, em alguns casos avermelhados e dolorosos.
• Febre, edemas e dor nas juntas.
• Entupimento, sangramento, ferida e ressecamento do nariz.
• Ressecamento nos olhos.

Locais do corpo com maior predisposição para o surgimento das manchas: mãos, pés, face, costas, nádegas e pernas
Importante: Em alguns casos, a hanseníase pode ocorrer sem manchas.

3. Como se transmite?

A transmissão se dá entre pessoas.  Uma pessoa doente que apresenta a forma infectante da doença (multibacilar – MB), estando sem tratamento, elimina o bacilo pelas vias respiratórias (secreções nasais, tosses, espirros), podendo assim transmiti-lo para outras pessoas suscetíveis.

O bacilo de Hansen tem capacidade de infectar grande número de pessoas, mas poucas pessoas adoecem porque a maioria tem capacidade de se defender contra o bacilo.

O contato direto e prolongado com a pessoa doente em ambiente fechado, com pouca ventilação e ausência de luz solar, aumenta a chance da pessoa se infectar.

Importante: Assim que a pessoa doente começa o tratamento deixa de transmitir a doença.
Ela não precisa ser afastada do trabalho, nem do convívio familiar e pode manter relações sexuais com seu parceiro ou parceira.

4. Quais são os fatores de risco para a hanseníase?

Apesar de muitas pessoas contraírem o bacilo poucas adoecem. Isso porque a maioria das pessoas tem boa resistência ao mesmo.

Situações de pobreza como precárias condições de vida, desnutrição, alto índice de ocupação das moradias e outras infecções simultâneas podem favorecer o desenvolvimento e a propagação da hanseníase.

Esta doença pode atingir pessoas de ambos os sexos em qualquer idade em áreas endêmicas. Entretanto, é necessário um longo período de exposição e apenas uma pequena parcela da população infectada, adoece.

5. Qual o período de incubação?
Em média de 2 a 5 anos.

6. Como as pessoas podem suspeitar que estão com hanseníase?

Os sinais e sintomas mais freqüentes da hanseníase são manchas e áreas da pele com diminuição de sensibilidade térmica (ao calor e frio), tátil (ao tato) e à dor, que podem estar em qualquer parte do corpo, principalmente nas extremidades das mãos e dos pés, na face, nas orelhas, no tronco, nas nádegas e nas pernas.

7. Como confirmar o diagnóstico?

A confirmação do diagnóstico é feita pelo médico por meio de exame clínico, baseado nos sinais e sintomas detectados na observação de toda a pele, olhos, palpação dos nervos, avaliação da sensibilidade superficial e da força muscular dos membros superiores e inferiores. Em raros casos será necessário solicitar exames complementares para confirmação diagnóstica.

8. Como é o tratamento da hanseníase?

O tratamento específico é encontrado nos serviços públicos de saúde e é chamado de poliquimioterapia (PQT), porque utiliza a combinação de três medicamentos. Os medicamentos utilizados consistem na associação de antibióticos, conforme a classificação operacional, sendo:

• Paucibacilares: rifampicina, dapsona - 6 doses em até 9 meses;
• Multibacilares: rifampicina, dapsona e clofazimina – 12 doses em até 18 meses;
O paciente vai ao serviço mensalmente tomar a dose supervisionada pela equipe de saúde, e pegar a medicação para as doses que ele toma diariamente em casa.

A regularidade do tratamento e o início mais precoce levariam a cura da hanseníase mais rápida e segura.

9. Como prevenir a hanseníase?

Apesar de não haver uma forma de prevenção especifica,  existem medidas que podem evitar novos casos e as formas multibacilares, tais como:
• diagnóstico e tratamento precoces;
• exame das pessoas que residem ou residiram nos últimos cinco anos com o paciente;
• aplicação da BCG (ver item vacinação).

10. Como se realiza a prevenção de incapacidades?

A prevenção de incapacidades (PI) é uma atividade que se inicia com o diagnóstico precoce, tratamento com PQT, exame dos contatos e BCG, identificação e tratamento adequado das reações e neurites e a orientação de autocuidado, bem como apoio emocional e social. A Prevenção de Incapacidades se faz necessária também em alguns casos após a alta de PQT (reações, neurites e  deformidades em olhos, mãos e pés). A avaliação neurológica, classificação do grau de incapacidade, aplicação de técnicas de prevenção e a orientação para o autocuidado são procedimentos que precisam ser realizados nas unidades de saúde. Estas medidas são necessárias para evitar seqüelas, tais como: úlceras, perda da força muscular e deformidades (mãos em garra, pé caído-sem força para levantar o pé-, lagoftalmo – incapacidade parcial ou total de fechar as pálpebras). Recomenda-se o encaminhamento às unidades de referencia os casos que não puderem ser resolvidos nas unidades básicas.

11. Como proceder em caso que requer  reabilitação?

Os pacientes diagnosticados tardiamente e com deformidades físicas deverão ser encaminhados para unidades de referência onde poderão se beneficiar de tratamento adequado, como a cirurgia, exercícios pré e pós-operatórios e o autocuidado, bem como da indicação de próteses e/ou órteses.  O objetivo é proporcionar uma melhor qualidade de vida às pessoas com hanseníase e/ou suas seqüelas.

12. Gravidez e o aleitamento

A gravidez e o aleitamento materno não contra-indicam o tratamento poliquimioterápico da hanseníase que são seguros tanto para a mãe como para a criança. Alguns dos medicamentos podem ser eliminados pelo leite, mas não causam efeitos adversos importantes. Os lactentes, porém, podem apresentar a pele hiperpigmentada pela Clofazimina, ocorrendo à regressão gradual da pigmentação, após a parada do tratamento.

13. Vacinação BCG (BACILO DE CALMETTE-GUÉRIN)

Toda pessoa que reside ou residiu nos últimos cinco anos com doente de hanseníase, sem presença de sinais e sintomas de hanseníase no momento da avaliação, deve ser examinada e orientada a receber a vacina BCG para aumentar a sua proteção contra a hanseníase. Deve também receber orientação no sentido de que não se trata de vacina específica para a hanseníase. Estudos realizados no Brasil e em outros países verificaram que o efeito protetor da BCG na hanseníase variava de 20 a 80%, concedendo maior proteção para as formas multibacilares da doença.
Em alguns casos o aparecimento de sinais clínicos de hanseníase, logo após a vacinação, pode estar relacionado com o aumento da resposta imunológica em indivíduo anteriormente infectado.