O vice-presidente da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), Hélvio Bertolozzi Soares, esteve em Teresina, para participar do Seminário Sobre Investigação do Óbito Materno, realizado pela Coordenação de Atenção à Saúde da Mulher da Secretaria Estadual de Saúde do Piauí.
Segundo Hélvio, é preciso capacitar os profissionais de saúde para que eles façam adequadamente o registro do óbito materno. “A federação basicamente encampou a mortalidade materna como um dos seus carros chefes. Preocupada com essa questão, a comissão nacional está procurando fazer um livro sobre mortalidade materna, onde estamos estudando todos os aspectos relacionados a ela”, declara o vice-presidente.
Bertolozzi ressalta que um desses aspectos diz respeito à questão da notificação. “Temos um alto número de mortes não registradas, os chamados sub-registros. Isso, em parte, deve-se pela falta de qualidade de preenchimento da Declaração de Óbito (D.O.), ocasionada muitas vezes por falha de preenchimento. Além disso, existe um alto número de mortes maternas que não ocorre na maternidade ou no seu local de origem, terminam acontecendo num hospital ou unidade que o médico que atendeu, normalmente, não é um obstetra ou não está atento à declaração. Daí acontece o que chamamos de máscaras, ou seja, quando não está envolvida a causa básica da doença e sim os acontecimentos da causa básica da doença”, destaca Bertolozzi.
Por esta razão, ele comenta que a FEBRASGO está orientando para os obstetras que eles preencham corretamente o D.O. ou então já enviem os pacientes com a causa básica, registrando, dessa forma, a morte materna.
Hélvio ainda ressalta que um dos maiores problemas do país é a falta de informação. “Além de não termos informações não temos qualidade de informação. O que a gente trabalhou no seminário realizado no Piauí, foi exatamente como criar uma informação qualificada para atender, pontualmente, aonde está existindo o evento e aonde ele pode ser evitável”, enfatiza.
Ele acrescenta que a falta de dados ou de uma investigação mais profunda para identificar o que ocasionou o óbito permite que as pessoas recebam informações erradas. Hélvio citou como exemplo o fato de estar sendo propagado que a cesariana é a grande responsabilidade pela morte materna. “Quando realizamos um estudo sobre a cesariana começamos a identificar que, por exemplo, hemorragia ocorre com muito mais freqüência no parto vaginal do que na cesariana, portanto, a cesariana é um fator de segurança, e não de risco de morte por hemorragia. Uma mulher está extremamente vulnerável no parto vaginal a uma morte por hemorragia”, disse Hélvio.
Segundo o médico, o procedimento mais correto é identificar o que levou a pessoa a morrer por hemorragia, tendo em visa que a cesariana é apenas um procedimento. “A cesariana, alguma vezes, é um fator de morbidade, mais freqüentemente, do que de mortalidade. Existem outros questionamentos: quem está mais suscetível à morte por hemorragia, a mulher que teve o primeiro filho ou aquela mulher que teve quatro ou cinco filhos? É esse diagnóstico que temos que começar a traçar, ou seja, após constatado uma morte materna devemos realizar um estudo mais aprofundado, que é o estudo clínico da morte, e não só o registro da declaração de óbito”, alerta Hélvio.
Ele explica que além do registro da declaração de óbito preenchido corretamente e da necessidade de dispor do certificado do óbito, é preciso estudar a morte materna através dos documentos disponíveis, entre eles os seguintes: a carteira da gestante, o registro de pré-natal e o registro hospitalar. Dessa forma, será possível fazer a reclassificação desse óbito e saber quais são as medidas passíveis de prevenção.
Uma vez definido esse estudo, o vice-presidente da FEBRASGO ressalta que o próximo passo será a definição de estratégias, principalmente para os gestores, que comandam a gestão de saúde, desde o governador ao secretário, e ainda envolve as autoridades sanitárias. “Aí vamos observar quem é pessoa de risco para determinada doença, como é que vamos atuar nessa determinada doença e quais são os procedimentos e os custos”, finaliza.