11 de Abril de 2009 | Atualizado em 05 de Outubro de 2024
Por Assessoria de Comunicação SESAPI - secsaudepi@gmail.com

REVISTA PIAUÍ SAÚDE: A solidariedade que salva vidas

Em 2008, a Secretaria da Saúde realizou uma grande campanha que ampliou de 13 para mais de 32 mil o cadastro de doadores de medula óssea no Piauí. Nove doadores foram encontrados e a campanha continua para salvar mais vidas

O nome já diz muito: Vitória. A menina hoje com oito anos, vítima de leucemia, amargou uma longa e dolorosa espera até realizar um transplante de medula óssea. O doador que salvou a vida de Vitória é um caminhoneiro do Rio de Janeiro que realizou o cadastro quando estava de passagem pela cidade de Floriano (a 250 km de Teresina) e se deparou com uma mobilização do Hemopi para cadastrar novos doadores. Enquanto Vitória se recuperava da cirurgia, o pequeno Saulo, da mesma idade, esperava por um doador. O caso bem sucedido de Vitória e a esperança de achar um doador compatível para Saulo foram as motivações para que, em 2008, a Secretaria da Saúde lançasse “Você é a chance de vida para alguém”, uma campanha estadual para cadastro de doadores de medula óssea. Em apenas 90 dias, a campanha atingiu a meta inicial de 15 mil novos cadastros. Em março de 2009, já totalizava 32.719 mil cadastros. Antes da campanha eram 13 mil. Um grande avanço, tendo em vista que até 2003, o Estado não tinha representatividade no banco nacional de doadores de medula. Campanha A Secretaria de Saúde montou uma estrutura móvel informatizada de coleta e cadastro num caminhão cedido pela Agespisa. Técnicos do Hemopi (Centro de Hematologia e Hemoterapia do Piauí) percorreram 62 municípios em 68 dias para alcançar a meta de 15 mil novos cadastros em quatro meses. A meta foi cumprida um mês antes do prazo estabelecido. Hoje, o Piauí tem 32.719 cadastros no banco de doadores estadual. “Estou feliz com a solidariedade do povo piauiense. A campanha continua se fortalecendo cada dia mais, porque agora as pessoas já têm conhecimento do que é doação de medula óssea”, frisa o secretário de Estado da Saúde, Assis Carvalho. Ele lembrou ainda como é difícil encontrar um doador. “A probabilidade de se achar um doador na mesma região é de um para 10 mil. Por isso priorizamos o interior nesta campanha. Tentamos ir a cada município onde sabíamos da existência de um paciente. E foi assim com a Vitória que está reagindo muito bem ao transplante. Nós esperamos que mais doadores sejam encontrados para que possamos salvar mais vidas”, declarou o secretário. Outro fator que justifica a interiorização das atividades da campanha é a forte miscigenação existente no Brasil. “Somos fruto da mistura de três raças e temos muitos perfis genéticos dentro do Piauí também. Por isso precisamos percorrer diferentes regiões para mapear geneticamente todo o Estado a fim de encontrar um doador para cada um que precisa de transplante", explica Albano Amorim, que foi um dos coordenadores da campanha ano passado. A diretora do Hemopi, Neuma Café, comemora os resultados da campanha. “Terminamos o ano de 2008 com a notícia de que foram encontrados nove doadores entre os piauienses cadastrados pela campanha. Isso é muito difícil, num universo tão pequeno encontrar tantos doadores compatíveis. A campanha obteve ótimos resultados e continuará a fazer parte do cronograma de atividades do Hemopi. O nosso trabalho agora é de continuidade”, explica Neuma. Ela fala também que a campanha é uma forma de desmistificar o preconceito que existe em torno da doação de medula. “É um procedimento fácil, mas que ainda causa muitas dúvidas. Com a campanha conseguimos atingir muitos públicos e isso nos ajudou a desfazer os preconceitos”, afirma. Parcerias A Secretaria de Saúde encontrou muitos parceiros que contribuíram no aumento do número de doadores na capital e no interior, como faculdades públicas e privadas, polícia militar, exército, sociedades de classes, Igrejas, entre outros. “A grande importância da participação desses parceiros, além da possibilidade imediata de salvar vidas, é que as pessoas que delas fazem parte podem ser agentes multiplicadores, pois estão bem informadas e podem ajudar a divulgar a campanha com facilidade”, disse Veronésia Rosal, coordenadora de Educação em Saúde do Hemopi. É importante doar Apesar do medo de agulha, a estudante Sara Ribeiro não se deixou abalar e tratou logo de fazer o cadastro assim que viu a mobilização em sua faculdade. “Fiquei um pouco nervosa, mas relaxei porque o incômodo é muito pequeno em vista da importância que tem para uma pessoa que está precisando da doação. Estou feliz pela minha atitude, mas ficaria mais ainda se eu pudesse doar minha medula para quem está esperando”, afirmou. Atitudes como a de Sara são esperadas diariamente por uma fila de pacientes à espera de um doador compatível. “O cadastro de medula é bem simples, rápido e requer uma pequena quantidade de sangue. É uma atitude que faz uma diferença enorme para quem precisa dessa doação”, disse Veronésia. A universitária Laís Rodrigues, que se cadastrou em Picos no dia 12 de junho de 2008, concorda com a coordenadora. “Achei interessante e importante poder ajudar outra pessoa. O processo de cadastramento é simples e não dói", disse no ato do cadastro. Saiba mais sobre o REDOME O Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea _ REDOME já é o terceiro maior banco de dados do gênero no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos (5 milhões de doadores) e para a Alemanha (3 milhões de doadores). O REDOME alcançou um crescimento recorde nos últimos quatro anos até chegar a marca de 940 mil cadastrados no final de 2008. O número de doações no Brasil cresceu a ponto de ultrapassar, três anos antes, a meta estipulada pelo Programa Mais Saúde, do Ministério da Saúde, de chegar a 920 mil doadores até 2011. Desde o lançamento do Mais Saúde, em dezembro de 2007, o Registro Nacional teve um aumento de 104%. Entre os fatores que contribuíram para esse resultado positivo está o trabalho de mobilização desenvolvido pelos hemocentros que passaram a fazer o cadastro dos doadores de medula como parte de sua rotina de trabalho e as diversas campanhas que são realizadas em todo o país, a exemplo do Piauí. Atualmente, cerca de 40 mil doadores são cadastrados a cada mês em todo o Brasil. O transplante de medula óssea é um tratamento indicado para pacientes com doenças de sangue como leucemias, linfomas e alguns tipos de anemia. Somente 25% dos pacientes encontram um doador compatível na família. Por isso, em todos os países, existem registros de doadores voluntários de medula óssea, que são sistemas que armazenam dados cadastrais e genéticos de pessoas dispostas a fazer a doação de medula óssea. Atualmente, na lista de pacientes brasileiros existem 900 pacientes esperando por uma doação. Para a realização de um transplante de medula no Brasil, o INCA faz a busca de doadores no REDOME e ainda em registros internacionais. O aumento do REDOME e do número de bancos públicos de sangue de cordão umbilical significa mais chances para essas pessoas, já que, por questões de proximidade genética, é mais fácil e rápido encontrar um doador dentro da região onde reside o paciente. Além disso, a auto-suficiência de doações reduz o investimento do Ministério da Saúde em transplantes no Brasil. Em média, um procedimento com doador internacional custa US$ 35 mil (cerca de R$ 83mil) para o Governo. Se a doação compatível for identificada no país, o valor cai para cerca de R$ 40mil. Quem pode doar medula óssea Para de cadastrar no REDOME, basta que a pessoa tenha entre 18 e 55 anos. Para efetivar o cadastro é preciso doar 10ml de sangue para que seja feito o mapeamento genético do sangue coletado, a partir disso, a pessoas passa a fazer parte de um banco de possíveis doadores em todo o mundo. “Fazer parte do REDOME não tem custo nenhum para o doador”, explica a enfermeira do Hemopi, Rosa Hiêuda Gonçalves. Deu certo! Uma nova vida para Vitória Obrigada a se mudar para Teresina, a família Alvarenga largou tudo em Floriano por causa da doença da caçula Vitória. Um ano depois de realizar o transplante, Vitória e sua família teriam ainda uma outra surpresa: uma casa nova com três quartos, banheiros, cozinha, área de lavanderia e lazer, sala ampla e totalmente mobiliada. A casa, localizada no bairro Dirceu II, foi entregue em setembro de 2008, pelo Secretário da Saúde, Assis Carvalho, a secretária da Seid, Rejane Dias e por um representante da Emgerpi, responsável pela reforma e aquisição do imóvel. A casa foi totalmente reformada para atender as necessidades da pequena Vitória que precisa de um ambiente arejado e limpo para ajudar na sua recuperação, pois na condição de transplantada seu sistema imunológico é frágil. Mas as adaptações feitas pela arquiteta Thais Lago, da Seid, também visam o bem-estar da mãe de Vitória, Auridália Alvarenga, que tem deficiência visual. A casa tem poucas paredes e amplos espaços para ajudar na locomoção. Por causa de um problema na retina Aurisdália tem apenas 5% da visão do olho direito. “Foi uma surpresa muito boa, a maior que eu já tive na vida”, conta Auridália, emocionada com o presente. O maior sonho de Vitória era voltar à escola. Em fevereiro, ela ingressou na 1ª série do ensino fundamental. Nas horas vagas, ela estuda, brinca com as bonecas e faz muita bagunça, como ela mesmo gosta de dizer. Vitória também ganhou um computador. A rotina da menina mudou muito. Ela conta que o dia mais marcante de toda essa história foi aquele em que ela tirou a máscara. Hoje, ela comemora porque não precisa mais usá-la para ir à escola. “Eu não gostava de usar máscara, porque tudo mundo ficava olhando para mim”, conta. Outra coisa é que agora ela pode comer de tudo. “Eu adoro tomate, panelada e toda comida quem tem caldo”, diz. Doação em família Outro caso bem sucedido é o do pequeno Saulo Moraes, 8 anos, que foi diagnosticado com leucemia. Apesar de não ter encontrado um doador compatível, recebeu a medula do pai, José Carlos com apenas 50% de compatibilidade. Saulo realizou uma técnica ainda em fase experimental no Brasil. A nova modalidade de transplante de medula óssea é voltada ao tratamento de pacientes portadores de leucemias agudas. A técnica, denominada de transplante haploidêntico, consiste em manipular as células de um doador parcialmente compatível, de modo a fazer com que sejam toleradas pelo organismo do receptor. A grande vantagem do novo método em comparação com os procedimentos convencionais está justamente no fato de não depender da disponibilidade de um doador totalmente compatível, no entanto não pode ser aplicada para todos os casos indicativos de transplante, portanto a busca por doadores não pode parar. Saulo mostrou que superação é uma palavra que faz todo o sentido na sua vida. Em um vídeo que gravou para os amiguinhos avisando que está bem e se recuperando, ele diz: “Quando eu voltar pro Piauí, eu vou poder fazer tudo que eu não fazia antes. Vamos brincar e fazer uma grande festa”. O pai agradece todo o esforço empregado para achar um doador compatível para o filho. “Mesmo não tendo sido contemplado pela Campanha realizada pelo Governo do Estado, somos muito gratos por todo o apoio que recebemos da Secretaria da Saúde. Sabemos que outras vidas foram salvas, e isso é importante para nós”, afirma emocionado José Carlos acrescentando que a campanha realizada em 2008 para cadastrar doadores de medula óssea foi algo novo no Piauí. “Essa campanha foi uma forma de aproximação, de humanização da estrutura do Estado em prol de seus cidadãos. Foi uma campanha verdadeira que fez surgir um sentimento muito forte no povo piauiense”, afirma. Números do cadastro de Medula Óssea no Piauí Entre 2000 até setembro de 2004 – 800 cadastros Outubro de 2004 até 27 de maio de 2008 – 13.313 cadastros 27 de Maio de 2008 a fevereiro de 2009 – 19.406 cadastros * A portaria do Ministério da Saúde nº 1315 de 30 de novembro de 2000 normatizou o Hemopi como órgão responsável pelo cadastro de doadores de medula óssea, no entanto entre os anos de 2000 e 2004, o cadastro de doadores de medula era feito pela Central de Transplantes do Piauí que nesses quatro anos cadastrou 800 doadores. O Hemopi assumiu o cadastramento em outubro de 2004. Por Antonia Dia e Sana Moraes